sábado, 16 de junho de 2007

96 horas mais tarde...


– Sirlene, atende, Sirlene... Sou eu, a Margô do 304. Tá, eu sei, você não me conhece, mas sei lá, aceita tomar um macchiato, ouvir alguma coisa, sei lá, você gosta de Fagner? Eu gosto bastante de Fagner, todas aquelas metáforas, um gênio. Bem, Sirlene, você podia atender, né? Eu sei que você tá aí, não vou insistir mais, de qualquer forma eu espero você no café da rua principal. Estarei de vermelho, tá? Ah, eu mudei a cor do cabelo. É, mudei de novo, putz, meu cabelo tá uma merda. Opa, desculpe, vai que você não gosta de palavrão, né, pegaria mal. Desculpe, não falo mais “merda”, tá. Ops, desculpe... é... Bem, te espero lá, tá bom? Um beijo...

– Eu não acredito que você disse isso pra ela, Margô...
– Pois falei, com todas essas palavras. Loucura, né? Putz, mas é que o dia dos namorados, ah, essa merda de dia dos namorados... Não assim que eu me importe com essas datas, mas, ah, meu, tristeza. Até o boteco do Tonhão teve desconto pra casais nesta semana.
– Chocolate?
– Brigada.
– De nada.
– Putz, acho que me ferrei.
– Ela não vem, Margô.
– E se ela vir? Imagine!
– Desencana, Margô... Chocolate?
– Brigada.
– Putz, essa carência. Maldito dia dos namorados.
– Ah, meu, comece a ser vegetariana, que tal? Mude a vida, procure a monja Cohen, viu que ela lançou um livro novo, então, meu, pare com essa preocupação carnal, esqueça as coisas laicas...
– Meu, sabe a quanto tempo eu não dou barra ganho um beijo?
– Nem fale... Chocolate?
– Brigada... Acho que apelar e ligar pra vizinha foi demais... Saudade do Osvaldo, lembra do Osvaldo, Catarina? Putz, calçava uns 48 mais ou menos...
– Lembro... Não era ele que cuspia na pia da cozinha enquanto você lavava a louça? Era um lord, super-romântico. Chocolate?
– Brigada. Pelo menos acho que ela não vem mesmo.
– Claro que não... Desencana, Margô. Chocolate?
– Mas eu, nossa que delícia esse de licor, então, eu nem ligo pra essas datas, nem de estar sozinha nem de não ter ninguém pra abrir o carro pra mim, de ninguém bater na minha bunda dizendo “aí nega, traz outra cervejinha aí panóis”. Ai, Cat, que tristeza... Nem a Sirlene-caminhão, cara.
– Chocolate?

Ouça: I´m waiting for the man (Velvet Underground)


Vanessa Rodrigues, 22, chocólatra

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Dia das Solitárias

Já que não existe um dia especial para estes seres tão independentes, essas crescentes hordas de mulheres decididas e não achadas, tomei a liberdade de fazer o dia dos namorados sumir. Puf. Vamos evaporar com ele para você, cara fã de Sex And The City, portadora de uma escova de dentes solitária no armário do banheiro. OK, o dia dos namorados já passou, mas, para o ano que vem (se você continuar solita neste mundo cruel), siga essas dicas para o 12 de junho passar ao largo.

Madrugada: no dia 11 vá dormir antes da meia-noite. Porque o mero cruzar dos ponteiros apontando para o teto já soará para você como uma espécie de reveillon revelador: você pensará “putz, já é dia dos namorados!”. Tsc, tsc, maldição. Se você estiver de TPM, então, periga o cuco ficar sem moradia. Mas atenção: não durma muito antes da meia-noite, senão acordará muito cedo no dia seguinte em sua cama enorme e gelada e pensará “putz, já é dia dos namorados!”.

Pela manhã: Acorde tarde. Muito tarde. Depois do almoço, preferencialmente. Se rolar um sonífero no dia anterior ou pilequinho (leve) de vinho, já ajuda. Peça a uma amiga para ligar no seu trabalho dizendo que você está passando mal. Ah, se for subordinada a chefe homem, diga pra sua amiga falar que você está com cólicas terríveis: eles não entendem nada disso e ficam até com medo de perguntar algo e parecer insensíveis. Para colar, sua amiga tem de frisar que as cólicas são tão do demo que você nem conseguiu falar ao telefone com seu chefe (se ele perguntar como então você conseguiu falar com sua amiga, peça a ela para fazer de conta que a ligação caiu).

Pela tarde: Depois de ter matado a manhã dormindo, acorde com música alta para não pensar em nada. Aliás, já pule da cama cantarolando junto: la-ra-la-la-ra-la. Preferencialmente um rock pauleira nada romântico, daqueles de refrão gutural, vomitado e incompreensível. Corra para o cinema mais próximo, e assista àquele filme superultramoderno, cheio de efeitos especiais. Certeza, você consumirá umas duas horas sem um pingo de romantismo. Almoço? Opte por um combo transbordante de pipoca para comer na sala escura mesmo, porque nos restaurantes só vai dar casaizinhos, brrrrrrrrrrr!!!...

Ao crepúsculo: Mexa-se, tome um banho delicioso (a Miss Wednesday pode indicar excelentes sabonetes). Fique cheirosa, coloque sua melhor lingerie e aparamente-se com aquele vestido preto decotado beeeeem no limite (ou avançando-o). Ligue para todas as suas amigas, não deixe nenhuma de fora. É claro que estamos falando das solteiras, aquelas parceiras pra toda hora. Reforce que hoje o dia também é de vocês: solteiras, uni-vos! Escolham um lugar especial, no qual possam encontrar gatos pardos.

À noite: Tome uma cerveja gelada, nada de vinhos porque são... românticos. Sigam até uma balada da hora: lugar para azarar e dançar. Só não vá ficar com qualquer um, OK? Vai que você se apaixona. Escolha o cara mais improvável – se é para ser o dia das solteiras, leve isso a sério. Pelo menos até a meia-noite. Quando os ponteiros se cruzarem apontando para cima e você se der conta de que “putz, não é mais dia dos namorados”, pode esticar o olho pr’aquele carinha que você esnobou no início da noite (e que, claro, por conta disso ficou de quatro por você). Vai que no ano que vem você não precise mais dessas dicas...

Lizie Capello

quinta-feira, 14 de junho de 2007


Ovnis and loves

Desde 2001 a situação se repete: Teodora não sai da cama, aliás, praticamente não acorda. Sempre sonolenta, melancólica e apática.

Mesmo passados seis anos, ela não consegue esquecer. Esquecer ninguém consegue, mas no caso de Teodora, “voltar a viver” é um sacrifício. Mais fácil, e talvez o mais correto (assim ela pensa), é esperar a sua hora chegar.

Aquele ditado de que o tempo é o melhor remédio, para ela não funciona. A lembrança e a dor daquele último contato, ainda são intensas e vivas demais para que ela possa suportar.

As sessões de terapia duas vezes por semana, uma dose diária pela manhã, de Citalopran e um comprimido de Rivotril à noite para dormir – nunca mais conseguiu pregar os olhos-, já não são suficientes. Teodora está com quase 30 anos e desde os 24 sua vida está parada: esqueceu os amigos, a família, perdeu o emprego, parou a faculdade -estudava arquitetura -, engordou e emagreceu, enfim, só está viva porque apesar de tudo, lhe falta coragem de ir embora deste mundo, “a dor da perda incomoda quem não a sente”, como disse uma vez.

Batalhadora, versátil, segura, Teodora também adorava uma balada, um cinema, um happy hour com as amigas depois de um dia cheio de trabalho e claro, assim como toda menina da sua idade, gostava de namorar.

Conheceu Felipe através de amigos em comum. Ele era um sujeito boa pinta, da idade dela, inteligente, estudante de música talentoso – estava se preparando para ser pianista -, moreno, alto, bonito e sensual (tudo o que ela sempre sonhou).

Faziam coisas que qualquer outro casal apaixonado faz: shopping, filme com pipoca em casa nos dias de frio, churrasco com os amigos, praia nos finais de semana, um jantar à luz de velas, natal, aniversário, ano novo, dia disso, dia daquilo, enfim eram um grude só.

Mesmo juntos por apenas dois anos, o namoro era intenso e sempre correu bem, isso até Felipe começar a ter um comportamento duvidoso, para não dizer estranho.

Em uma noite fria de 25 de maio de 2001, Felipe estava deixando Teodora em casa, depois de um jantar romântico, quando de repente sem mais nem menos, olhou para o céu e disse:

− Estas luzes me cegam!!

Sua namorada achou estranho, mas não disse nada, apenas lembrou que dias antes, ele tinha feito um comentário tão esquisito quanto este. Na ocasião, Felipe disse que ao olhar para as estrelas, sentia uma vontade imensa de chorar.

Teodora achou melhor nem dar bola para os comentários do namorado, pois Felipe estava passando por uma crise em casa, e achou que quando seus problemas familiares passassem, ele também melhoraria. Ledo engano.

Uma semana depois, ela encontra em meios as coisas dele, livros e revistas sobre discos-voadores, extraterrestres e afins. Estava explicado o comportamento do namorado nos últimos dias. Felipe, incomodado com a situação e sem saber que a namorada já o descobrira, resolveu que lhe explicaria tudo:

− Amor, sei que tenho tido um comportamento estranho, que esqueci até do nosso namoro, mas é que estou passando por problemas, acho estou vendo “coisas de outro mundo”.

−Você não vai me falar que anda vendo extraterrestres e discos voadores.

−É, é isso mesmo, por isso te disse das luzes àquela noite, acho que era um disco voador.

Teodora ficou indignada:

−Pelo amor de Deus Felipe, não me faça rir!! Agora só falta você dizer que papai Noel também existe. Bem que eu desconfiava que você não andava bem da cabeça.

Felipe achou melhor conversar com a namorada depois, já que o clima estava ficando pesado. Beijou-a e foi embora. Embora para nunca mais voltar, sumiu sem deixar vestígio algum.

Doze de junho de 2007, 10h da manhã: Teodora toma o Citalopran e ainda continua um pouco sonolenta, melancólica e apática, porém consegue levantar da cama, afinal, hoje é dia dos namorados e ela quer encontrar Felipe, ainda mais agora, que se tornou uma especialista em Ufologia.

Como??? Ah, os livros e revistas do Felipe lhe foram muito úteis.

Camila Age (Cami).

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Pós dia D



— Alou! Sim, tou indo pra lá minha flor. Estou no trânsito. Ah, vocês duas já estão aí? Por favor, tenham a dignidade de não contarem nenhuma das fodas antes de eu chegar, ou mato vocês. Chego em menos de cinco minutos baby.
Sara desligou o telefone, aumentou a música e meteu o pé no acelerador.

Enquanto isso, em algum restaurante badalado...


— Ali está nossa mesa, Raquel. Vamos sentando? Esse bico fino maldito me mata. Um dia ainda viro hippie e vou pro meio do mato andar descalça.
— Você? Faz-me rir, né? Você não sobrevive um dia sem passar chapa no cabelo.
— “Hola chicas”. Como estamos?
— Hola, Sara. Tá falando espanhol de tanta tequila que tomou na festa de “avulsos”?
— Querida, além das tequilas, você pode contabilizar no cardápio espanhol o guapo que conheci. Oh, my!!! Moreno de olhos verdes, mais ou menos 1,90 m de muita resistência física, diretamente de Barcelona para o banco de trás do meu carro. Vocês reparam nas minhas olheiras hoje?
— Calma Sara. Antes de você contar todas as suas peripécias vamos pedir. Garço-om!
— Oh, lá em casa esse garçom, heim? Meu bom Jesus me abaneeeeee!
— Boa tarde, senhoras. Vocês gostariam de saber a sugestão do nosso chef?
— Na verdade eu gostaria de saber seu telefone e a que horas você sai.
— Sara?! Moço, não liga não. Ela é meio descompensada das idéias.
— E os pedidos? As senhoras já escolheram?
— Três saladas premium e salmão as molho de maracujá. Para beber, água com gás.
— O mesmo para todas, meu querido. E se mudar de idéia, quanto ao telefone...
Mal esperaram o garçom sair...
— Então comecemos. Quem será a primeira?
— Tá bom, eu começo. Melhor, né? Um relato mais mediano. Se a Sara começar é só putaria mesmo. Se a Carol começar, vamos dormir em cima do salmão. Então, deixem com o ‘Meio Termo’ aqui.
— Desembucha, Meio Termo.
— Ah, gente, não posso falar isso. É até maldade, o Renan tava empolgadíssimo ontem. Eu comprei um vestido novo, larguinho e resolvi sair sem nada por baixo.
— Uhullllllllllll! Ela tá aprendendo com a tia Sara. Essa é minha garota.
— Ai Sara, até parece que sou uma virgem pura. Então, o Re me buscou em casa e primeiro fomos jantar, ele fez uma reserva em um restaurante bacanérrimo de comida asiática, comemos coisinhas afrodisíacas. E ele me deu esse anel maravilhoso...
— É quase um pedido de casamento, hein.
— Ai, meninas, não exagerem. Deixa eu continuar. Bom, depois que ele deu o anel, cheguei bem perto do ouvido dele e disse: “amo você muitão. Amo tanto, tanto, tanto, que estou sem calcinha e louca pra sair daqui”. Gente, esse homem ficou de pau duro na mesma hora. Fomos embora correndo, parecíamos dois adolescentes. Quando entrei no carro ele já foi metendo os dedos no meio das minhas pernas. Eu abri o zíper dele e comecei a fazer um boquete em plena Mateus Leme. Só escutava umas buzinadas quando passava alguma caminhonete do nosso lado. Loucura, loucura.
— Calma, Raquel. Dá um tempo que daqui a pouco vou ter que levar o garçom pro banheiro.
— Concordo, Sara. Raquel, você chega contando essas coisas deliciosas para uma senhôura como eu, que não sabe o que é sexo há mais de um mês. É desumano.
— Ah, gente... já faz um ano e dois meses que estamos juntos. Mas o sexo parece que tá cada vez melhor. A gente tá naquela fase que aprendemos de tudo um do outro, sabe? Bom, pra terminar, chegamos no motel e transamos a primeira vez na escada mesmo. Subimos pra conhecer a suíte e já fui ligando a sauna. Gente, se tem uma coisa que eu amo é dar na sauna. Que coisa bem boa. O corpo vai ficando molhado escorregadio, a pressão vai baixando. Aíiiiiiiii, me dá muito tesão.
— Segundo pit stop na sauna então?
— Sim, na sauna. Com direito a banho gelado e depois hidromassagem.
— Ahhhhhhhhhhhhh, acho que vou ficar vermelha.
— Conta de uma vez.
— Gente, a hidro foi a melhor parte. Estávamos na banheira bem amorzinho, sabe? Só carinho. Até que ele começou a ensaboar minhas costas, daí falei, toda manhosa: “amor, me dá banho, vai”. Ele concordou e continuou passando o sabonete em mim. Eu de olho fechado, aquela coisa. Daí, lá pelas tantas, ele começou a passar o sabonete no meu clitóris... genteeee, foi tudo de bom, nunca imaginei que um dia pudesse rolar uma masturbação a dois com um sabonete.
— Uou. Já ganhou. Raquelzinha se superandooooo!
— Ganhou mesmo Raquel. O prêmio “A Foda da Semana” já é seu.
— Ah, vão me deixar sem graça. Fala você, Carol. Como foi seu dia dos namorados?
— Querem morrer de tédio? Bom, quase não lembrei da tal data. Dormi até mais tarde e nem vi o Ricardo sair. Quando cheguei ao escritório, a Sandrinha, minha secretária, me perguntou: “já comprou o presente de dia dos namorados?”, eu respondi, “puta merda, Sandrinha, nem lembrava. Liga pra Manoela, secretária dele, e vê o que ele tá precisando. Tenho certeza que a moça das coxas grossas deve saber mais do que eu”.
— Ah, você ainda com essa idéia que teu maridão tá saindo com uma ninfeta acéfala?
— Idéia não. Certeza. Nada sério, claro. Poxa gente, até eu comeria a Manoela.
— Carol, você não é mais a mesma, amiga.
— Não mesmo. Você acha que hoje em dia tenho tempo pra me preocupar com isso?
— Tá. E daí? Como terminou o dia?
— Como terminou? A Sandrinha comprou uma gravata italiana e mandou entregar no escritório dele. Ele mandou orquídeas com um cartão: “amor, estou indo para uma reunião no Rio, volto na quinta. Amo você.” Saí do escritório às 21h37 e fui direto pra casa, tomei um delicioso banho de banheira, sem sabonetes sendo esfregados no meu clitóris, mas, acreditem, foi prazeroso. Pedi um delivery de sushi, jantei ao som de Madeleine Peyroux e fui dormir cedo.
— Socorro, que tédio de noite Carol. Você tem que sair comigo uma noite dessas.
— Ei, dá licença?! Eu adorei minha noite e eu não dou a mínima para estas datas.
— E você, Sara, conte-nos sobre sua noite espanhola.
— Gente, o espanhol era maravilhoso. Mas, como todo homem lindo, confesso que ele estava mais preocupado em olhar sua performance no retrovisor do que em me dar prazer. Mas é pinto internacional, né amigas? Transamos duas vezes no estacionamento. Sabe que ele queria sair comigo hoje de novo, mas, não lembro o nome dele. Como vou chegar no hotel? Perguntando “olá recepcionista, eu transei com um espanhol no banco de trás do meu carro, mas, tudo que sei dele é que ele veio de Barcelona e está hospedado aqui”. Sem chance, né?
— Ah, mas se o espanhol fosse pau de mel você daria um jeito de descobrir tudo dele.
— Na verdade a festa de ontem tava tão boa. Mas, pela embalagem do moço, achei que teria a noite dos sonhos, sabe? E que seria a trepada da semana. Me enganei.
— Garçom, ei, psiu! Mudou de idéia, bonitinho?
— Pára, Sara, tá deixando ele sem graça. É, amigas, nada melhor que almoçar toda a semana com vocês. Não tem sexo no mundo que seja tão bom. Façamos um brinde ao nosso encontro semanal. E viva o dia dos namorados, os sabonetes no clitóris, as pistas de dança e os deliverys de comida japonesa.
— E chega de falar de sexo e dia dos namorados por hoje. Tenho algo mais interessante, descobri uma nova dieta. Seis quilos em uma semana...
— Brincou?!...
— Garço-oommm!!



Mônica Valentina.

terça-feira, 12 de junho de 2007

I hate valentine´s day


Tirei o dia 12 do meu calendário. Faz tempo! Está mais para dia 29 de fevereiro que só acontece uma vez a cada quatro anos... Instituí que meu ano bissexto é contado no dia 12 de junho.

Mas não adianta, todos os anos é a mesma coisa, esse dia insiste em se manifestar e ficar marcado pro resto do ano....

6h30 da manhã. Toca o interfone. É o porteiro do meu prédio, dizendo que tinha uma entrega de café-da-manhã para mim. Abri a porta, o menino me entregou a cesta, pensei: será que era pra mim mesma? Uma cesta apetitosa, tinha tudo que eu amo, bolinhos, tortas, patês dos mais diversos pra passar em cima daquelas torradas de mil gostos, ou do pão de aveia, hum! E manteigas e geléias. Nossa, quanta coisa boa! Mas como no fundo, lá no fundo, eu não sou uma má pessoa, não quero estragar o café de outra pessoa. Então, verifiquei o cartão. Claro que não era pra mim, era para o apartamento 2 b e o meu é o 12b. Ai, que bosta! Imagina o humor que fiquei logo cedo, ainda faltavam 2h para eu "acordar"... Tudo bem, aproveitei pra tomar um banho bem demorado, um café (não se compara àquele que só tinha coisinhas da Bauducco. Mas eu adoro um pão de dois dias atrás. Você não sabe como ele fica bom se assar com margarina e um pouquinho de orégano, sabe, assim, na frigideira?)

8h30, saio, não entendo porque está tudo uma loucura. Motoqueiro filho da puta, quase entra no meu pára-brisa. Qualquer dia eu juro que atropelo um. Quase que estraga o enorme buquê que levava na traseira. Ei, peraí, mas que dia é hoje?? Ah, claro... saio do carro e dou de cara com todas as lojas enfeitadas de vermelho, com aqueles corações (super bregas) de braços enormes, que nem cabem na cama, aqueles ursos que se eu ganhar um, ou eu ou ele ficamos na minha casa, de tão exagerados que são. Vários corações, porta-retratos com fotos de casais famosos. Coisa hipócrita. Será que esses casais comemoram mesmo o dia dos namorados? Sim, porque periga eles não passarem da meia-noite juntos. De tão relâmpago que é o negócio. Começa num dia, come no outro, termina no dia seguinte... e assim seguem a vida.

9h00 chego ao escritório. Mas de novo?! Sim, de novo. Desta vez, o entregador achou que eu fosse a senhorita Nunes, ah, só por Deus... e meu dia ainda está começando. Fui dura com o moço: “Senhorita Nunes? E eu lá tenho cara de senhorita Nunes, meu filho? Acho que a tua mãe parece mais a senhorita Nunes. Aliás, acho sinceramente que elas têm um caso, de tão parecidas que são...”.

Tentei marcar uma reunião em um restaurante próximo ao escritório... gente! Isso está ficando complicado, acho que estão testando a minha paciência, não havia mais nenhum lugar, parece que só abriram para os namorados hoje. E eu, meu Deus? E o meu cliente? Será que no dia doze os solteiros não podem comer? Quem não tem namorado, então, tem que se alimentar de luz? É isso? Bom, quer saber, desisti do almoço, marquei um café no final da tarde. Enquanto isso, termino de fazer um relatório, e aproveito para não sair de dentro do escritório e dar de cara com casais apaixonados. Sério, pessoas apaixonadas são um saco, elas só sabem falar de como seu namorado é lindo. Até quando o cara vai ao banheiro ele é fantástico, ah, por favor, todo mundo caga igualzinho, e o pior, fedido. Portanto, ninguém fica bonito no banheiro, ponto.

18h. Mas o que é isso? Eles tomaram conta da cidade, os ursos, os corações de braços enormes, até aqueles balões de gás hélio, que fazem você falar bem fininho. Estou perdida, não consigo nem achar meu carro, não me lembro onde foi que eu o deixei, todos aqueles tons de vermelho ofuscaram minha vista. Essa felicidade toda me deu uma forte dor de cabeça, desmarquei reunião e fui direto pra casa.

18h30 Ah, era só o que me faltava! Tem um carro de homenagem ao vivo, com aqueles fogos, com vários balões, vermelhos, um som que não se ouve muito bem, mas a gente ainda consegue escutar aquelas lindas músicas, tipo “Como é grande o meu amor por você”. Roberto Carlos na veia. E o cara com o microfone fala: “Simone, é você, viemos aqui porque seu esposo, o Roberto, te ama”. Ai, ai, ai... preciso que esse dia acabe logo. vou sonhar com balões vermelhos, ou melhor, terei pesadelos, balões vermelhos fazem eu me lembrar de filmes onde as crianças somem no meio do parque e a única pista eram os balões vermelhos, que, claro, são soltos na última cena, antes dos comerciais.... Ai, acho que quero me perder hoje.

Muita gente, e eu tentando passar no meio daquela multidão vendo a homenagem do Roberto para a Simone, que se eu escutei direito tinha o sobrenome Nunes. Que perseguição! Eu ainda tentava vencer a multidão pra chegar no meu portão, e, de repente, passa um menino de braços dados com sua namorada, carregando na outra um imenso urso. É o mesmo que mencionei no início, que não cabe dentro do meu apartamento. Ele bateu em mim, e eu fui direto ao chão. Apaguei!

E, de repente, me vi perdida.. opa, peraí, não vejo mais os tons vermelhos, agora somente tons brancos (existe isso? Tons brancos?). Acordei enlouquecida, querendo saber onde estava, e, claro, me lembrei do urso assassino, dos balões amaldiçoados e entendi tudo. Definitivamente, eu odeio, com todas as minhas forças, o dia dos namorados. Quando eu sair daqui, vou até lá e acabo com a raça, do Roberto, da Simone (acho que é Nunes), do cara que levava o urso, da namorada dele, do motoqueiro... Isso, vou atrás do motoqueiro, onde quer que ele esteja e o faço engolir de vez meu pára-brisa.

Será que é uma miragem? Moreno, olhos grandes e verdes, 1,80m. Uau! Esfrego os olhos pra ter certeza de que estava realmente vendo aquilo. Ele viu que desmaiei e veio até mim, abriu um enorme sorriso. Nossa, fiquei sem fala, só pensava, como ele é lindo, que sorriso mais lindo, que mãos mais lindas, que perfeito que ele é! Mais do que perfeito, foi o que disse: “Nossa, ainda bem que ganhei uma linda doentinha hoje”. Suspirei, fiquei sem fala, me perdi dentro dos seu olhos verdes, e me deixei ali. Isso foi romântico. Sabe, fiquei pensando, afinal de contas, acho que o dia dos namorados não é tão ruim assim! Estou começando a gostar daquele imenso urso vermelho que me levou ao nocaute... Acho que, bem conversadinho, cabemos nós dois na minha casa.
Feliz dia dos namorados!!!!
Dilka Maria

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Amanhã em três versões



O dia 12 de junho foi determinado como Dia dos Namorados por comerciantes paulistas, na década de 50, pela proximidade do dia de Santo Antonio, o santo casamenteiro. Vejam vocês, alguém aí imaginava que os comerciantes são pessoas tão românticas? OK, não há como não concordar que é agradável receber flores e mimos nesse dia, mas o problema é a falta de um motivo... nobre. Romântico. Uma data que não deriva de um motivo histórico, de paixão, sem nenhuma morte trágica como Romeu e Julieta, ou um affair água com açúcar ao estilo “Um Lugar Chamado Notting Hill”.

Infelizmente, tenho que admitir que, neste e em outros quesitos, os americanos e europeus adotam escolhas mais felizes. No caso do dia dos namorados, a data é comemorada em 14 de fevereiro, dia de São Valentino ou St. Valantine's Day. Acompanhe o motivo...

Conta-se que em Roma, no ano de 270, um bispo chamado Valentino, celebrava casamentos secretos entre casais apaixonados. Isso contrariava as ordens do imperador Claudius II, que preferia ter os homens disponíveis para lutar, por achar que o casamento amolecia seus soldados para a guerra. Tentou impedir que Valentino realizasse os casamentos e, como não conseguiu, mandou prendê-lo para, posteriormente, executá-lo.

Enquanto aguardava sua execução na prisão, Valentino apaixonou-se pela filha cega do carcereiro, que misteriosamente voltou a enxergar. Atribuíram ao bispo Valentino este milagre, o que o encaminhou para sua santificação. Valentino foi executado dia 14 de fevereiro e, em homenagem ao seu sacrifício pelo amor, instituiu-se nessa data o Dia de São Valentino. Show, hein.

Continuando minha pesquisa sobre os motivos da data master dos pombinhos, encontrei uma versão machista da história, que conta sobre a festa romana da Lupercalia (ou Februata). A comemoração homenageava os deuses Pan e Juno. Neste dia, próximo à primavera, era organizada uma cerimônia na qual os nomes das moças eram colocados em uma caixa e sorteados entre a marmanjada. A “felizarda” passava a ser a namorada do sorteado. Pior, pelo período de 12 meses! Imagine se quem a sorteou fosse um babaca ou um cara com bafo! Bom, prefiro a versão de São Valentino.

Confesso que estou decepcionada com o dia dos namorados. Dizem que é a data da celebração do amor, mas nada mais é do que (todos sabem) um bom motivo para o comércio faturar alguns trocados. Afinal, já passou o dia das mães (segundo dia comemorativo mais rentável no ano) e o natal está longe (eterno pole position no quesito business comemorativo), então estamos aí, às vésperas do dia dos trouxas apaixonados e com bufunfa na carteira.

Mas tudo bem, não deixarei essa falta de conteúdo romântico estragar meu dia dos namorados. Vou tentar me animar novamente e colocar em prática tudo que planejei: me perfumar, vestir uma bela lingerie, colocar uma roupa sexy e curtir o dia do amor ao lado (em cima e embaixo) do meu amor. Com as bênçãos de São Valentino.

by Carlota Joaquina


domingo, 10 de junho de 2007

aguarde....

primeiro texto nesta segunda-feira.