sábado, 30 de junho de 2007

Cura para todo mal




Soraia, 25. Estagiária em um grande escritório de direitos humanos. Vomita os 3,25 que come de almoço todas as tardes ao som de “Você é Linda”. 1,78, 52.
Bulimia: 50 ml de Biotônico Fontoura e 3 horas de leitura diária de A Morte de Ivan Ilitch, Tolstoi.

Marilda: 125 mg de buscopam preventivo, 2 comprimidos de aspirina, 2 cálices de leite de magnésia dissolvidos em 1 copo de água filtrada. Café descafeínado e ovos sem gema.
Hipocondria: 1 copo de água aromatizada e flores na janela.

Cleverson. Desde que se converteu jogou fora toda sua coleção de clássicos do jazz dos anos cinqüenta, queimou seus livros de literatura “profana”, jogou a televisão da família da varanda. Olha o mundo com olhos de quem está longe. Esbofeteou sua sobrinha de 13 anos que cantava alto Raul Seixas. Diz que o mundo está perdido. Sente-se sozinho e culpado por essa tristeza.
Cacodemomania: repetir o mantra “Amar o próximo como a si mesmo”.

Adolescentes brancos, estudam, trabalham, de bom caráter, espancam jovem doméstica até esfacelar a mandíbula, dela, é claro. Ela achou que ia morrer. “Mas foi um engano, ela tinha cara de puta”.
Heterofobia: 1 Red Bull com uísque e 12 horas ininterruptas de tratamento ludovico.

Kátia F. espera há 45 anos sentada na cadeira do escritório onde é telefonista a resposta que vai mudar sua vida.
Paralisia: 20 ml de adrenalina e um corrida em ritmo forte em linha reta até chegar dentro de si.

Ouça: Drugs don´t work (The Verve)

Vanessa, crecdactilomaníaca.

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Óh dia, óh vida...


Confesso. Que me desculpem os que não têm nada a ver com isso, mas eu me sinto obrigada a confessar. Estou há alguns dias numa irritação que não cabe em mim. Ah! E antes que algum engraçadinho faça o comentário... Não. Eu não estou de TPM. Tenho inúmeros motivos. Acompanhem.

A semana começou bem. Já no domingo (sim, toda semana começa no domingo), eu estava feliz da vida, com meus sobrinhos no circo. Aí, toca o telefone, bem no meio da apresentação de sete (sim, eu disse sete) motos no globo da morte. Como eu não tinha o registro na agenda do número, e sou uma pessoa extremamente curiosa, fui obrigada a atender. Só que o infeliz, em vez de se identificar e dizer logo a que veio, ficou de gracinhas do tipo “você não sabe quem está falando?”. No meio de todo aquele barulho e com a ligação falhando, não tive a menor chance de reconhecer a voz. Pois é. Eu sei. Nada de mais. Nada de mais para um ser humano com a curiosidade e a irritabilidade dentro dos padrões normais. Não pra mim. Pior: Até agora estou sem saber quem ligou e a troco de que.


Tudo bem. Passou. Aí, na segunda-feira, resolvi que era o dia de levar na costureira uma calça que eu comprei há quase um mês. Isso já é outra coisa que me deixa profundamente irritada: ter menos pernas que o comprimento da calça necessitaria. Cada vez que compro um jeans sou obrigada a constatar que, neste sentido, a Ana Hickmann e seus 1,20m de pernas é que são felizes. Mas tudo bem. Nada que um ajuste não resolva. Então, à tarde fui buscar a bendita peça. Pois é. Novo motivo de indignação profunda. A mulher conseguiu estragar minha calça.

Terça-feira. Acordei atrasada, pra variar. Tinha que chegar no trabalho às 8h30 e, quando acordei, já eram 7h45. Considerando que levo pelo menos meia hora pra me arrumar e 45 minutos no trânsito... sem dúvida alguma eu chegaria atrasada para uma reunião. Ok. Pulei da cama, peguei minha toalha e fui direto pro chuveiro. Nem lavei o cabelo, porque não daria tempo. Fui me vestir e aí um novo problema. Eu não tinha calça jeans nenhuma limpa, com exceção daquela que recém tinha voltado da costureira. Depois de xingar um pouco mais a santa mãe da mulher que fez o ajuste da barra, vesti uma calça social. Tomei café, levei meus cachorros para fazer um xixi básico na grama do vizinho e fui trabalhar.

Na hora do almoço, aproveitei para cortar meu cabelo. Era a alternativa ideal, já que, além da minha franja estar muito comprida, eu precisava lavá-lo. Mas... pôta-que-pareo! Além de ter ficado curto demais, ficou armado! Mas tudo bem. Voltei ao salão e lavei de novo. Desta vez, nada de secar com o secador. Senão, mais um pouco e eu poderia ser a garota propaganda do shampoo Seda, aquela por quem a leoa se apaixona. Ãnh-iá!

Do salão eu fui direto pra minha análise (sim, como uma pessoa normal eu faço análise!), e depois fui tratar de negócios com um amigo. Chegamos na pizzaria antes dele. Sim, chegamos. Estávamos eu, minha calça social preta, minha franja curta e meu cabelo armado. Oh dia!

Ainda restavam algumas horas até essa terça-feira acabar. Então, saindo de lá, passei numa amiga minha. Depois de subir os 17 andares, tocar a campainha, ela atender e eu sentar no sofá, percebi: eu estava sem meus cigarros. Cheia de resignação, muito calma e tranqüilamente, tomei o elevador, desci os 17 andares, fui até o carro e fiz todo o trajeto de volta.

Antes de ir dormir, eu precisava ver a final do Aprendiz, de Roberto Justus, na Record. Não que isso tenha relevância para a minha vida, mas, não sei porque, simpatizo tanto com o Tiago (um dos finalistas). Então, pra fechar com chave de ouro, o programa terminou com um “continue to be”.

Quarta-feira nem mereceria comentário. Passei um dia tão slow motion, que nada de ruim aconteceu, porque quase nada aconteceu. Quer dizer, quase nada de ruim aconteceu. Perdi meu piercing e fui obrigada a usar um brinco pendurado na barriga, para não correr o risco de o buraco fechar.

Na tentativa de amenizar toda essa situação, combinei de, no fim do dia, passar na casa de uma amiga depois do trabalho. No caminho liguei e o celular dava direto na caixa. Aí eu lembrei que tinha um happy hour com as meninas do blog, mas não lembrava nem que horas nem onde era. Marquei, então, de ir com uma outra amiga num churrasco. Fui buscá-la, afinal, iríamos juntas e... adivinhe!? Ela não estava em casa. Disse que apareceu uma reunião sei-lá-com-quem de última hora. Ai, ai, ai... quem merece?!

Sem problemas. Eu estava mesmo com muito sono. Então, antes até de começar a novela das oito eu já estava dormindo. Na quinta-feira, tive que usar a calça de barra estragada. E, de sorte, não precisei usar a calcinha de um biquíni por debaixo dela. Não mandei lavar roupa ainda e estou sem nenhuma. Não tinha pão e o nescafé tinha acabado. Saí em jejum, e, se alguém me olhasse torto, responderia: Sim, é fome!

Fiz uma pausa no trabalho e saí para respirar um pouco de ar puro. Foi aí que me dei conta da sucessão de fatos lamentáveis da semana. Voltei para minha sala o mais depressa que pude. Afinal, com a sorte que eu estou, não seria de estranhar se uma pombinha fizesse minha cabeça de alvo.

Eu sei. Para a maioria dos seres humanos episódios como estes não teriam importância nenhuma. Quem sabe até passassem bem despercebidos. Talvez tudo isso faça parte das neuras femininas, mesmo. Ou, puta que o pariu, vai ver que eu sou a premiada da semana... vai saber! Bom... pelo menos, tentando ver o lado bom de tudo isso, todos estes fatos profundamente lastimáveis serviram para eu escrever meu texto.

Agora, se vocês me dão licença, eu preciso pôr minhas roupas na máquina e, antes de dormir, rezar para que amanhã esta fase ruim já tenha findado!


Aliane Kanso

quinta-feira, 28 de junho de 2007

A BARRIGA DE SOFIA


Sofia nunca se preocupou se tinha barriga ou não. Isso, só até ver um anúncio em um baita outdoor, de mais uma destas clínicas de estética, espalhadas pela cidade. Ah, e em letras garrafais: BARRIGA, segundo o dicionário significa: “QUALQUER PROTUBERÂNCIA, CURVA SALIENTE OU BOJO QUE LEMBRE O CONTORNO EXTERNO DO ABDOME”. Venha perder a sua com a gente. Na hora, Sofia teve certeza de que aquilo foi escrito (e de propósito) exclusivamente para ela. Naquele momento, ela se viu com o dobro do seu peso. Detalhe: ela pesava 53kg, nada mal para quem tinha 1,60 m de altura, não?! Este outdoor foi um divisor de águas na vida de Sofia. Antes da barriga e depois dela. Após este dia, a moça, que antes nunca tinha pisado em uma academia, correu para uma, e tornou-se fera no spinning e nas dietas da moda. Aí começava a neura de Sofia.
Este foi o primeiro passo, o segundo foi correr para a tal clínica de estética, apesar do anúncio horroroso espalhado pela cidade.

−Curva saliente ou bojo que lembre o contorno externo do abdome, pensava alto Sofia enquanto se dirigia para a clínica. Chegando lá...
−Bom dia, posso ajudá-la?
− Claro, meu nome é Sofia Guerra, marquei hora com a Rose, a esteticista.
− Ah, sim, ela já vai te atender.
−Sofia, eu sou a Rose, vamos entrar? Pronta para perder a barriguinha?
−Você quer dizer pança né? Hoje ela é toda sua.Faça o que quiser,Rose.
Sofia deitou-se na cama sem medo da tortura que estava para começar. Iniciou com uma massagem estética, depois com a modeladora, logo depois com a drenagem linfática, passou para a eletro-estimulação e finalmente para o ultra-som (sim, até em estética existe ultra-som).Até que...
− Chegaaaaaa!!!! Não agüento mais,Rose.Eu quero ficar sem barriga, mas também quero conseguir chegar até meu carro e dirigir até em casa. E pela dor que estou sentindo, acho que isso não será possível.
−Mas foi você que pediu,Sofia.
− Eu pedi para ficar sem banha, Rose,não para ser socada como se faz com uma massa de pão. Ainda quero sentir que tenho órgãos dentro de mim. E isso eu garanto que por hora não consigo. To indo. Quem sabe daqui uns anos, depois de uns quatro filhos eu volte. Tchau. E saiu batendo a porta.
Mesmo dolorida,Sofia resolveu fazer a “lição de casa” que Rose mandou. Usar depois do banho (engraçado estas coisas terem hora), um gel redutor, que na hora esquenta muito e deixa a pele vermelha(ta bom, esta narradora que vos fala já fez a experiência) e depois você precisa colocar muita, mas muita roupa porque é como se tivesse entrado numa câmara frigorífica. Fez uma única vez e jogou fora o pote caríssimo do gel.
A obsessão de Sofia Guerra em perder a barriga já estava ultrapassando os limites, pois até na hora de transar, ela preferia, vamos dizer, as posições que lhe favorecessem, ou melhor, que não deixassem tão a mostra aquelas dobrinhas indesejáveis (que,vamos falar a verdade,toda mulher tem. Ah desculpem, a Kate Moss não, aliás, está cada vez mais magra, a bandida!).
Até no carro, tanto faz se dirigindo ou como passageira, a primeira coisa que fazia era disfarçar a barriga com a blusa, e se a companhia fosse um gato lindo, tipo menino do Rio, moreno, alto, bonito e sensual, então, ela encolhia a barriga quase sem poder respirar, mas o importante era que ele não percebesse que ali reinava uma certa protuberância.
E ai se um gato desse encostasse na barriga dela na hora de cumprimentá-la na balada. Ela virava bicho. Um dia isso aconteceu.
−Sofia, é você? Quanto tempo!Pelo menos uns cinco anos. Como você está?
− Estaria melhor, Ricardo, se na hora de você me cumprimentar não tivesse encostado na minha barriga.
O rapaz ficou perplexo com tanta sinceridade.
−Nossa, Sofia, desculpa. Não sabia que você estava grávida.Está se sentindo bem?
Pronto, foi o que bastou para ela surtar. Pegou a caipira que estava bebendo, jogou na cara de Ricardo e passou o resto da noite sem olhar para ele.
Depois desta mal sucedida balada e ainda com dores, por conta de tanto ter a barriga amassada na clínica de estética, Sofia resolveu mudar de estratégia.
O terceiro passo foi começar a tomar produtos fitoterápicos, até cápsula de colágeno e de berinjela ela tomou. Ah, sem esquecer do chá verde. Fuçando na Internet, Sofia descobriu que ele acelera o metabolismo e assim, ajuda a queimar a gordura corporal.
−É o fim da minha pança.
Nestas suas pesquisas, ela descobriu que na Suíça, foi realizado um estudo com três grupos de pessoas que seguiram a mesma dieta. O resultado: o grupo que tomou chá verde teve aumento de 4% na velocidade de combustão das calorias no organismo e de 5% na queima de calorias em relação aos outros dois grupos pesquisados.Sofia tinha descoberto seu pote de ouro, a sua luz no fim do túnel.
No primeiro dia, ela começou com uma cápsula de colágeno e uma de berinjela e no máximo uma jarra de chá verde, mas a cada dia que passava ela ia aumentando as doses sem auxilio algum, tomava sem parar, até que no casamento de sua amiga de infância Roberta, em que era madrinha, teve uma dor de barriga que quase não a deixou entrar na Igreja.
Do dia em que viu o anúncio até o dia do casamento da amiga, já havia passado um mês e com tudo que tinha feito, pelo menos um pouquinho da barriga, digamos que uns 3,5kg já deveriam ter ido embora. Mas mesmo com toda esta parafernália, a pancinha continuava ali, não aumentava, mas também não diminuía.
Naquela mesma semana, por uma coincidência, Sofia encontrou na bolsa, uns exames solicitados há muito tempo por sua médica ginecologista, e resolveu levar os resultados para ela. Aproveitou e contou toda a sua saga atrás de uma barriga chapada.
−Então isso é tudo Dra Lucia. Mas além da minha barriga não ter sumido, ando sentindo enjôos e um pouco de tontura, mas acho que isso é de tanta porcaria que tomei não?
Sofia falava enquanto a médica observava seus exames.
− Sofia,não,infelizmente, ou felizmente os produtos fitoterápicos e o chá verde que você tomou em excesso não são responsáveis pela sua barriga não ter sumido. O responsável é outro. Você está grávida.
− O queeeeee??Não pode, eu sempre me cuido. O que vai ser da minha vida?! Nem namorado eu tenho, só um rolinho. Este filho só pode ser dele.
−Então querida, acho que você deve procurar este seu rolinho e decidir com ele qual melhor atitude a tomar. Só posso lhe dizer que sou contra o aborto no seu caso.
Sofia bateu a porta do consultório sem se despedir da médica, sem saber para onde ir e o que fazer, decepcionada, ainda mais agora que a barriga só faria crescer e ela que lutou tanto para perdê-la.
Pois é, como é a vida não? O amigo dela, aquele gato, o Ricardo que ela encontrou e tratou mal na balada, realmente estava certo. Se Sofia Guerra soubesse que iria engravidar, nunca teria dado atenção para aquele outdoor.
Tsc, tsc, estas nossas neuroses, ainda vão nos levar além, além da loucura, loucura, loucura. Hoje a protuberância, curva saliente ou bojo que lembre o contorno externo do abdome, é um lindo bebê.

Camila Age

NOTÍCIA EXTRAORDINÁRIA

As Meninas de Papel vão mesmo pro papel

Ser virtual é legal. Mas como temos sido muito assediadas nestas duas primeiras semanas de Meninas de Papel, rolou convite para criarmos uma coluna no Jornal Farol – publicação voltada ao público jovem e de distribuição gratuita que circula por Curitiba e região. Pois bem, queremos estrear com a sua participação, cara e caro leitora e leitor do blog. Seremos suas consultoras para os mais diversos casos que precisem de uma intuiçãozinha feminina. Você manda seu problema ou dúvida (no anonimato ou assinado) que a gente vai responder em assembléia e em público. Que tipo de dúvida você deve mandar? Todas. Somos uma equipe multidisciplinar, oras. Só que tem de mandar rápido, porque já sairemos com nossa coluna na próxima edição do Farol. Então, encaminhe sua dúvida cruel ou caso cabuloso nos comentários deste blog, ou no e-mail meninasdepapel@gmail.com . Quando rolar a distribuição da próxima edição do Farol, vamos divulgar aqui onde você pode pegar seu exemplar (se é que vai sobrar algum).

quarta-feira, 27 de junho de 2007

No divã...


Ela entra na sala do psicanalista, cumprimenta-o, larga a bolsa e o casaco na mesinha que fica ao lado da poltrona e se deixa escorregar no divã. O mesmo divã que deita há cinco anos. A sessão começa:


– Então...

– Estou exausta! Essa semana foi terrível. Quase matei meu chefe, estou de TPM, perdi as duas causas que defendi, minha massagista desmarcou meu horário, cheguei tão tarde em casa todos os dias que meu marido já dormia e babava como uma criança. E tudo isso tem um peso tão grande sobre mim. Parece que só fracassei. Daí, antes de vir pra cá, pensei: “vou passar no shopping e me dar um presente, eu mereço, depois da semana desumana que tive”. Entrei no shopping e parei na primeira loja de sapatos, experimentei uns quinze pares, escolhi dois, e quando estava no caixa pagando, desisti: “moça, desisti. Não vou levar não. Não posso fazer isso. É pura compulsão, sabe? Atitude típica de uma neurótica-maníaca-louca-compulsiva-obsessiva. E eu não sou assim. Não posso ser assim. Tchau”. Larguei os sapatos, guardei o cartão de crédito e saí da loja, sem olhar para os lados. Voltei para o estacionamento, peguei o carro e vim pra cá.

– Aham.

– Estou feliz, doutor. Acho o máximo quando consigo enxergar minhas compulsões. Me controlar então, nossa! É o supra-sumo do auto-conhecimento. É o começo da cura. A barreira final do ego. Eu sei que neurose é uma doença emocional. Ou seja, se é emocional, só depende de mim. Só eu posso mudar essa realidade. Não preciso reagir com exagero à tudo. Chega. CHEGA!!

– Aham.

– A partir de hoje, e você é testemunha disso doutor, não compro mais nada que não tenha necessidade, não como mais por ansiedade, não terei mais medo de certas situações e vou largar mão da minha mania de limpeza. Preciso parar de atormentar a vida da Benedita, coitada. Ela até que limpa a casa bem. Isso, que caiam todas as minhas máscaras. Sou quase uma pessoa livre. Sinto minha essência borbulhar. Sinto meu ego sendo pisoteado, esmagado, aniquilado. Não comprei nem um mísero sapato. Nada mais de obsessões. Está declarado: extermínio total as minhas compulsões. O episódio da loja de sapato foi a prova de que eu precisava, quase como se fosse um sinal divino que eu posso, sabe?

– Aham.

– Chega de ter pena de mim. Sei que as resistências serão fortes, mas, tudo é uma questão de escolha e de controle. Pronto. Eu já escolhi. Agora vem o controle. E isso é fácil. Eu consigo isso com os pés nas costas. Imagina...

– Aham.

– Já me sinto outra pessoa, doutor. Minha capacidade psíquica não é “totalmente” prejudicada, e por ter essa consciência dos atos estranhos e absurdos que cometo, posso resolvê-los, não é mesmo doutor?

– Aham.

– Embora eu seja uma neurótica e enxergue tudo com lente de aumento, eu posso levar uma vida normal, sou capaz, só depende de mim, né doutor?

– Aham.

– Os meus pensamentos intrusivos se acumulam na minha mente. Mas só eu posso parar minha mente neurotizada. Como já sei disso, tudo será bem mais fácil. Eu sinto isso. Esse pensamento já faz parte de mim.

– Seu tempo acabou, querida...

– Ah, doutor, a sessão de hoje foi tão esclarecedora. Você é um gênio e eu estou cada dia melhor. Obrigada e até semana que vem.

Na saída do consultório... Triiiiim...Triiiim...Triiiiiim.

- Alô / Oi, Lígia / Tudo bem, sim / No shopping? / Mas você tem tantos sapatos, pra que comprar mais? / Aproveitar e jantar por lá? / A Benedita deve ter deixado o jantar pronto lá em casa / Não sei, amiga. Algo me diz que não devo / Passei no shopping antes de ir para o analista, sabe? / Sim. Tou aqui do lado. / É, o prédio do analista fica duas quadras sim. / Tá bom, Lígia. Vamos. / As promoções estão ótimas mesmo, sempre que vira a estação os preços despencam, né? / Tou entrando no carro e indo pra lá. Te espero ali, naquela primeira loja de sapato, sabe? / Té já amiga...

Mônica Valentina de Botas.

PS: Agradecimento especial para os meus queridos amigos, Jefferson S. {ff} responsável pela ilustração e Igor Bleggi que coloriu o desenho. Ficou lindo meninos. O problema foi escolher entre as três opções... Sou fã de carterinha de vocês. =)

terça-feira, 26 de junho de 2007

Pão de queijo

- Meu amor, deixa eu tirar essa blusinha, vai?
- Ah, não! Nem precisa!
- Queria te ver... te sentir toda nua!
- Pare com isso, nem dá pra ver nada!
- Claro, você quer fazer tudo no escuro! Mas pelo menos, posso sentir você melhor?
- Acho que ta bom assim!
- Ta bom, ta bom..
Smack, hummmmm.... muá.....ai, ai... que delícia!
- Ah, que coisa! Aí não!
- O que foi agora?
- Eu não gosto quando você pega nos meus culotes!
- Só to querendo te puxar mais pra perto de mim!
- Eu já estou, praticamente, em cima de você!
- Mas eu adoro essas gordurinhas... esses pãezinhos de queijo...
- Pão de queijo!!! Que termo horroroso!! E quem foi que falou em gordurinha??? Eu disse culote! Você falando desse jeito parece que estou uma gorda! Você acha que eu to gorda??
- Meu anjo, não quis dizer isso. Você é linda, é perfeita pra mim!
- Perfeita só pra você?
- Não, não quis dizer isso.. disse apenas que você é perfeita, e não é só pra mim. Para todos que te vêem...
- Quer saber? Pro seu governo, estou dentro dos padrões do IMC de uma modelo fotográfico. Um metro e sessenta e cinto e cinqüenta e um quilos, meu bem!
- Tudo bem, querida! Eu acredito em você. Eu já disse que você é maravilhosa. Onde a gente tava mesmo...?
Smack, hummmmm.... muá.....muá.....gostosa!
- Ai, ai.. não pára, não pára!!! Isso amor, isso... Ah, não... Pára, pára....
- Eu não acredito! O que foi agora?
- Eu não quero ir por cima... Enquanto eu não emagrecer o suficiente, e perder essa barriga aqui, eu não quero. Desse jeito disfarça melhor.
- Pra mim chega! Eu não agüento mais!!! Quer saber duma coisa? Fique aí com seus cinqüenta e um quilos, um metro e sessenta e cinco, que vou achar uma gorda, de uns 100 quilos... Mas que pelo menos, trepe comigo!
- Amorrrr.. amorrrr.. volta aqui.. me dá só mais umas duas semanas... prometo que vou perder mais dois quilinhos. Aí, faço o que você quiser... Amorrrrr... Humm... 100 quilos? Mas vai ser um belo dum pão de queijo gigante te transformando em panqueca, isso sim!


Dilka Maria.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Celulites, neuras e gaúchas bonitas


Alô! / Oi meu amor, dormi sim e você? / Ah, Florianópolis, bom, ai, não sei, por que não vamos pra Ilha do Superagüi? Praia deserta, só nós e as butucas? / Ok, já entendi, o destino é Praia Mole. Fazer o que, eu não tenho escolha mesmo! / Então tá, nos vemos na quarta. Beijos xuxu.

Socorro... Tenho que correr. Tenho dois dias pra perder pelo menos dois quilos, dar um trato nesse cabelo que tá parecendo uma espiga de milho, arrancar esses malditos pêlos e eliminar as celulites. O que vou fazer? Floripa não! Ninguém merece estar acima do peso e com bronzeado de palmito! Ai meu Deus! Essa época do ano tá cheio de gaúcha, e as filhas da mãe têm uns corpos lazarentos de bonitos. Por que será que a maioria das gaúchas são quase perfeitas? Deve ser o chimarrão. Não tem outra explicação, a não ser que tenha colágeno na água do Rio Grande do Sul, porque não é possível, as gurias não têm celulite. Ai, como eu me odeio! O que eu vou fazer? Ai que desespero. Como eu vou pra praia com essa barriga de gelatina e essa bunda parecendo um queijo suíço? Aaaaaaaaaah! Acho que vou gritar de raiva. Não quero ir, quero ficar aqui, eu tô me sentindo péssima, aiiiiii. Pense Luiza, pense...

Pra começar: massagem relaxante, massagem com pedras quentes, limpeza de pele. Aí parto pra drenagem linfática, massoterapia, estimulação russa, massagem modeladora. Será que dá pra fazer carboxiterapia? Bom, dá aproveitar e fazer umas luzes, pé, mão e uma escova progressiva. Ah, não posso esquecer de fazer aquela sopa diurética, tomar ela durante esses dois dias e associada a uma hora de esteira pela manhã e mais uma hora a tarde, dá pra perder uns dois quilos.

Passei os dois dias me preparando pra enfrentar os quatro dias de martírio em Florianópolis. Mas, não teve jeito, o Edu passou me pegar as 19h de quarta-feira. Nós só íamos voltar no domingo e eu não sabia mais o que fazer ou pensar, comecei a Rezar: “Meu Deus me ajude! Espero que a praia esteja vazia. Mas eu prefiro que não tenha onda nenhuma, aí o Edu não vai querer surfar e eu não vou precisar ir à praia, muito menos por biquíni e que não exista nenhuma gaúcha gostosa, pra eu não me sentir pior do que eu me sinto neste momento. Eu estou morrendo de fome, com dor na bunda e na barriga de tão sovada e eletrocutada que fui pela desgraçada da massagista, por favor, eu sou uma mulher neurótica desesperada!”

Chegamos à pousada por volta das 23h. Desfizemos as malas, fizemos um sexozinho básico e dormimos. Quando acordamos, eu percebi que sou uma pessoa abençoada. Caía o mundo lá fora. Resultado: passei o feriado inteiro dentro do quarto, não encontrei nenhuma gaúcha, trepei até me acabar e eu nem tirei o biquíni da mala.

by Carlota Joaquina

domingo, 24 de junho de 2007

Einstein bate Dali no sexo oral


Festa Junina à Fantasia. Era só o que dizia no convite. Além de data, hora e local, claro. Bom, para mim, toda festa caipira era uma festa à fantasia. Mas um amigo, que conseguiu botar meu nome na lista aos 48 do segundo tempo, explicou, meio que de má vontade, que era para se vestir de caipira com “algo mais” (?!). Desliguei o telefone ainda tentando organizar as sinapses. Tá, entendi. Como já passava das onze, tive de improvisar: camisa xadrez (quem não tem?), calça jeans rasgada no joelho (bendito movimento grunge) e bota sete léguas (tá bom, é bota de trekking, mas é bota, tá valendo). Opa, uma gravata toda torta e com estampa pouco discreta dá o toque final. E o tal “algo mais”? Simples: ao invés de pintar o tradicional bigode de caipira, empinei as pontas para cima e virei um Dali do sertão. Nem o próprio teria imaginado algo tão surreal.

Encontro pouquíssima gente conhecida, tudo para potencializar a sensação de ridículo. Pego um quentão servido na barraquinha do Frankenstein caipira e quase derramo num Teletubbie caipira. Flerto com uma Mulher Gato caipira, quando então sinto o cano de um revólver em minhas costas: “My name is Bond, Jeca Bond”, e assim surge saltitante meu amigo do “algo mais”, vestido num smoking cheio de remendos. Ele me abraça, rindo e cuspindo quentão ao dizer que vai me levar pro altar. Chegamos no meio de uma pista onde rola uma mistura de rave com dança de quadrilha. Entra uma versão de Marilyn Manson vs White Zombie para “Like A Virgin” e surge um padre de cabelo moicano. Meu “amigo” apenas aponta em minha direção e fala algo ao ouvido do sacerdote punk. Demoro a me dar conta e daí não há mais tempo para fugir: sou pego para ser o noivo do casamento caipira. Claro, sempre é mais divertido ver um tímido pagando mico. Por sorte, a celebração é rápida: eu ao lado de uma caipira com máscara de carnaval de Veneza. O som é alto demais e tenho de gritar o “ssiiiiimmmmm!!!” umas cinco vezes. Por fim, a troca das alianças (daquelas de plástico, que vêm grudadas de brinde na maria-mole) e... o beijo. Meu amigo me olha com cara de “me deve uma”. Duas horas depois, estamos relaxados em nossa noite de núpcias no banco traseiro do carro dela. Por trás da máscara, aqueles olhos parecem querer dizer algo romântico...

- Você tem cigarro?

- Você fuma?

- Não, só queria fazer a cena clássica.

- E perguntar “foi bom pra você”?

- Não precisa. Pra você eu sei que foi ótimo.

- E pra você?

- Você não se saiu muito bem aqui na parte traseira.

- É que aqui é apertado.

- Não tô falando do carro.

Silêncio.

- Não vai tirar sua máscara?

- Eu não, você não tirou a sua.

- Mas eu vim sem máscara...

- Você é que pensa.

- Você parece ser muito sincera.

- Muito.

- Qual seu nome?

- Adivinha.

- Cleonice.

- O que?!

- Esquece, eu erraria de qualquer jeito. No que você trabalha?

- Adivinha.

- (suspiro) Trabalha na área de comunicação.

- Como todo mundo.

- Você é jornalista.

- Se for, a manchete de amanhã será: “Einstein bate Dali no sexo oral”.

- Você transou com um Einstein caipira?

- Não. Ninguém veio de Einstein, só lembrei da língua.

- Você não é jornalista.

- Quero alguma coisa pra beber.

- A gente vai se ver de novo?

- Quero um Johnny Walker duplo, você tem?

- Amanhã eu consigo o que você quiser.

- Ô, tédio.

- Você é casada.

- E se for?

- A camisinha estourou...

- Já ouviu falar de dil?

- É uma coisa proibida pelo Papa.

- Atentar contra os direitos humanos também é.

- E o que tem a ver?

- É direito humano meu não querer ter um rebento seu.

- Rebento?!

- Rebento.

- Pra você foi apenas sexo?

- Sexo nunca é “apenas”, meu querido.

Ela precipita o corpo entre os bancos da frente e liga o som.

- John Coltrane?

- Não gosta, problema seu.

- Por que não ligou o som antes pra gente transar com música?

- Porque preferi ouvir você falar sacanagem.

- Mas eu não falei sacanagem.

- Pois é... sacanagem.

Silêncio.

- A gente vai se ver amanhã?

- Você já perguntou.

- E você não respondeu.

- Amanhã é quarta, dia de sexo.

- Amanhã é domingo.

- É segunda, porque já passou da meia-noite.

- Mas continua não sendo quarta.

- Você me deixou confusa.

- Por que os outros dias da semana não são dias de sexo?

- Quem disse que não são?

- Olha, só me diz seu telefone então.

- 9119-9169.

- É seu mesmo?

- Não, é do meu ex-namorado?

- Ãhn!?

- Só pra ele atender um monte de homens perguntando por mim.

- Você o ama?

- Como poderia? Você não disse que eu era casada?

- Eu perguntei.

- E eu não respondi.

Silêncio.

- Deixa pelo menos eu tirar uma foto contigo.

- Não, eu não sou fotogênica. Prefiro tirar a foto. Quer que tire uma sua?

- Sozinho? Não, obrigado. Pra isso eu tenho espelho.

Sem mais nem menos, ela então puxa a minha gravata e guarda no decote.

- Tá bom, eu troco minha gravata contigo.

- Isso não é uma troca, é um roubo, meu filho.

- Você é obsessiva ou compulsiva?

- Abrasiva.

- Que fantasia é essa sua?

- Quem disse que é fantasia?

- A minha é.

- Sério? Pensei que era um modelo da Hugo Boss.

Novo silêncio.

- Dá uma pista então.

- Minha mãe é esteticista, serve?

- Claro. Vou vasculhar a lista telefônica amanhã.

- Quem disse que ela mora aqui?

- Tá... outra pista então.

- Deus, a paixão e a morte. Tá bom assim?

- Hmmmm... qualquer pessoa que não tenha a ver com nenhum desses itens eu elimino?

- Isso mesmo.

- Você veio com alguma amiga pra festa?

- Eu trouxe a Hilda?

- Onde ela tá?

- No porta-luvas.

Olho para o porta-luvas, vou até ele e vasculho-o.

- Hilda é esse novo lubrificante íntimo aqui?

- Quem disse que eu vim nesse carro?

- Pensei que era seu.

- Não.

- É da Hilda?

- A Hilda morreu.

- Olha, chega. Fala alguma coisa a sério. Qual seu hobby?

- Gosto de política.

- Dá pra falar sério, por favor.

- E de sabonetes também.

- Por favor...

- Pergunta o que eu não sou.

- Tá, o que você não é?

- Você.

- Chega.

- Eu falei sério.

- Quero algo mais sério.

- Olha: meus peitos não são de silicone.

- Eu percebi.

- Onde você vai?

- Vou embora, tá quase amanhecendo, vão ver a gente aqui.

- É domingo.

- Que é que tem?

- No domingo eu fico mais analítica.

- E...

- E o que?

- Você é psicóloga?

- E quem não é?

- Eu sou paciente.

- E quem não é?

- Por que você tem mania de responder uma pergunta com outra pergunta?

- Eu?

- Chega, deu.

- Desculpe, eu sou estabanada mesmo.

- Percebi.

Olho para fora e, mentalmente, fico fazendo contagem regressiva para abrir a porta.

- Tá, se você acertar meu nome, eu confesso tudo que você quiser.

- Carla.

- Muito simples.

- Mônica.

- Tá me achando dentuça?

- Camila.

- Que nem a música?

- Que música?

- “Camila-a-aaaaa, ouuu...”.

- Isso.

- Também é muito simples.

- Vanessa.

- Você só tem nomes simples na cabeça?

- Edilmery.

- Escrachou, né?!

- Lizie.

- Com “i” ou “y” no final?

- Com “e”.

- Complicou, hein.

- Aliane.

- Cuma?

- Tá, deixa. Hmmm... Sabrina.

- A feiticeira?

- Não é Tabata o nome?

- Não, Tabata é a filha.

- Eu pensei que era Samantha.

- Hmmm... acho que você confundiu.

- Tá, que seja... ei, mas você não disse nem que sim nem que não pra nenhum nome!

De repente, entra um Mutantes no som do carro.

- “Desculpe babyyyyyyy, não vou ficar com vocêêêêêêê...”.

Era a deixa que faltava. Puxo a gravata do decote dela e guardo no bolso da minha calça. Saio, fecho a porta do carro e caminho esfregando os braços, já com o sol arranhando o verde úmido do jardim. Ando até meu carro, passando por entre piratas jecas e diabinhas caipiras, esparramados por bancos e pufs. Não sei se pelo lirismo da alvorada, ou se pela embriaguez da conversa, mas chego no meu carro e escrevo com o dedo na fina película de orvalho que cobre a janela: “jamais conseguirei dobrar a alma origami desta menina de papel”.

Meninas de Carne

Você é ou conhece a garota da foto? Então, manifeste-se.

Se não conhece a figura, tente identificá-la no meu Orkut: http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=13286287392859360604.

A primeira pessoa que responder corretamente seu nome e sobrenome nos comentários, deixando ali algum canal para contato, ganhará um DVD do filme “Dermografia”, que tem minha concepção, roteirização e assistência de direção (estréia em breve no cinema).

Texto e foto: Mario Lopes

E eu vos declaro marido e mulher


Pronto, me casei. O pai da Psicanálise agora é meu marido. Será que minha voz não tremeu bem na hora do “sim”? Putz, eu tava tão nervosa que o sim saiu muito baixinho, tive até que pigarrear e repetir pra que o padre conseguisse ouvir... fodeu. A uma hora dessas, ele já deve estar analisando a fundo esse fato, e é bem provável que troque a nossa noite de núpcias por desenvolver e escrever a teoria das palavras tremidas. Não dizem que “Freud explica”? Então, ele já deve ter arrumado uma boa explicação pro meu trêmulo “sim”. Vai publicar o texto no 15º volume de sua obra, sob o título “O tremelique das palavras proferidas”... Ah não, tremelique não, é uma palavra muito divertida pra ele, sério que só – se bem que essa carranca que aparece na foto não é verdadeira, ele só quis fazer cara de conteúdo.

Ai, ai, que homem gênio. O problema é que tanto brilhantismo só podia resultar nesse baita egocentrismo. Xi, com um ego desse tamanho, é bem provável que ele queira dar seu nome ao nosso primeiro filho. E olha só que azar o meu: com tantos nomes bacanas por aí – Carl, Jaques, Michel – o desgraçado tinha que se chamar “Sigmund”!!!! Culpa da mãe dele, aquela véia louca, sempre querendo que seu filhinho fosse o melhor, o especial, o diferente de todos os outros bebês. A doida além de nomear o pobrezinho de Sigmund – o que não é um nome, e sim uma maldição, como diria minha falecida avó – fazia a criança ler Shakespeare desde os oito aninhos!!! Aí o guri já cresceu meio lesado, capaz de trocar as farras da mais tenra adolescência por assistir às conferência de Goethe. Pronto, deu no que deu. Agora ele é um gênio revolucionário, à frente de seu tempo, e eu estou fadada a dar de mamar a um Sigmundzinho. Ninguém merece...

Mas tudo bem, tá tudo certo, afinal de contas, qualquer chatice que a companhia desse maluco me trouxer será compensada com muito... SEXO!!! Em se tratando de fornicação, ninguém melhor do que ele. O cara é o Deus do Sexo, El Dios del Sexo, The God of Sex, Le Dieu du Sexe. Universalmente, em todas as línguas, ele é o melhor. Se estou falando isso por experiência própria? Lógico que não, eu me casei virgem, tá pensando o quê? Sou uma mocinha de família, uma linda donzela com um belo dote, e não existe, em 1902, uma boa senhorita que dê antes do casamento (os amassos do divã não contam, hihihi). Pois é, meninas, ainda não dei pra ele. Mas pensa bem, um cara que diz que pulsão de vida nada mais é que a Pulsão Sexual, uaaaaaaauuuu!!! Só de imaginar o tamanho da sua Pulsão já vai me dando uns três tipos de calor: por baixo, por cima e pelos “costado”, como diria a minha faleci... ah não, isso é a minha mãe quem diz, e essa tá vivinha da Silva.

Tá chegando o momento tão esperado. Agora que fui desposada, serei desvirginada. Será que ele vai gostar do meu desempenho? E se reclamar que a minha depilação não está em dia? E se me achar gorda? E o meu cabelo liso, será que tem alguma interpretação psicanalítica? E se eu gemer muito, será que ele vai me achar muito vadia? E se me achar muito vadia, será que não pode ser... bom? Ai meu Deus, quantas dúvidas, quanta paranóia! Acho que cheguei a uma definitiva conclusão: sou uma mulher neurótica. Nesse caso, me casei com o homem certo: ou ele me conserta, ou meu cérebro entra em curto-circuito de vez.

Sabrina Moreira