Definitivamente. Esporte não é a minha praia. Até gosto de competições. A questão é que, jogando, eu sou muito ruim mesmo. Talvez tenha algo a ver com um trauma de infância, um ginásio cheio de gente, um saque, uma bolada na testa e uma vergonha sem fim. Não sei. O fato é que eu nunca me saí muito bem em modalidade nenhuma. Fosse com vôlei, futsal, futebol, handebol, basquete ou coisas do gênero.
Bom. Mas isso nunca foi problema pra mim. Sempre convivi super bem com estas diferenças. Copa do Mundo começa e Copa do Mundo termina, e tudo bem. As Olimpíadas vêm e vão. Alguns atletas até se destacam, é verdade. Mas no final das contas, que diferença isso faz?
Com o Pan era pra ser mais ou menos a mesma coisa. Até me espantei quando, num dia em que eu estava meio convalescida, tentando espantar uma forte gripe, liguei a televisão e... era a abertura dos Jogos. Nossa. Nem sabia que era hoje, pensei. Aproveitei a oportunidade do destino – em um dia normal não estaria em casa naquele horário – para assistir tamanho espetáculo.
Agora. O que era aquele jacaré medonho, passeando feliz no meio de um monte de sacis coloridos? Não agüentei. Desliguei a tevê, me embrulhei em um cobertor e fui ler os textos de Ivan Lessa no site da BBC. Muito mais produtivo e interessante.
Não leio nada sobre esporte. Pulo as páginas desta editoria sem o menor constrangimento. Agora, o tal Pan insiste em aparecer. Qual foi minha surpresa quando, no sábado, nos cadernos de política, descobri o bafafá que aconteceu na abertura. Nosso (digo, deles) excelentíssimo Babalorixá da Banania foi vaiado por uma multidão de 90 mil pessoas, desde o ensaio geral até todas as vezes em que foi anunciado. Foram, ao todo, sete vaias. Não houve a menor dúvida de que o negócio era com ele mesmo. Um mico mundial. Isso sim é que é vergonha!
Claro que a petralhada está até agora balbuciando justificativas para o acontecido. Há quem diga que não foi bem assim... Afinal, o Maracanã vaia até minuto de silêncio, não é? Não. Não é. O Maracanã também aplaude. O prefeito César Maia foi aplaudido. A delegação cubana também.
É. Brasília manda e desmanda nos comerciais da Peugeot. Brasília expulsa do país jornalista americano que questiona os hábitos etílicos do presidente. Brasília ameniza escândalos. Brasília abafa as negociações da família Lula da Silva. Agora... a voz do Maracanã, Brasília não pôde conter .
Ah se arrependimento matasse... Pois é. Mortinha da Silva. Quer dizer... da Silva, não. Não quero ter nenhum tipo de vínculo lulístico, nem na hora da morte. Mas se arrependimento matasse...
Porque foi que eu desliguei a televisão? Apesar de que, com os cortes e com maquiagem que a Rede Globo fez – e pelo que se soube as demais emissoras e veículos que noticiaram o evento também –, eu ouviria, e bem baixinho, somente alguns dos UUUUUU.
E, pra ser bem sincera, acho que ouvir só era pouco. Eu queria era esta lá. Ah se eu fosse uma pessoa mais esportiva... Provavelmente seria uma das 90 mil pessoas. E nem venham me dizer que as vaias foram compradas. Que o prefeito César Maia colocou ônibus para levar os agitadores. Isso não daria certo. É só raciocinar bem. Até porque, quanta gente seria preciso para abafar os aplausos dos mais de sete mil funcionários que ganharam ingressos da Petrobrás e da Caixa Econômica Federal. Ou será que esta galerinha entrou no clima da vaia?
O Lulinha Paz e Amor (lembram do slogan?), orientado por seus assessores, acabou se recusando a fazer a abertura oficial do evento. Acho pouco. Ele podia se recusar oficialmente ao cargo, fazer suas malinhas e picar a mula, em minha modesta opinião. Em vez disso, ele posa de vitima. Coitadinho. Foi pra uma festa onde não era bem-vindo, lamentou ele.
E bem-vindo ele parece não estar sendo mesmo. Ele não é bem-vindo no Rio (pausa para aplauso aos cariocas). Por conta do acidente no aeroporto de Congonhas, teve que cancelar os compromissos em São Paulo. Aparecer em território gaúcho, então, nem pensar. Lá ele seria alvo de coisas bem piores que vaias.
Bom seria se ele fosse para o sertão nordestino, passar o resto dos dias comendo calango frito, e sem direito ao auxílio do Bolsa Família. Nada de vinhos caros, lençóis de linho egípcio, talheres de prata, cigarrilhas holandesas ou charutos cubanos. Não teria mais nem mesmo aquela tradicional pinguinha, a que é tão habituado.
No final das contas, acho que só faltou uma vaia para o pessoal da organização do evento. Dos R$ 40 milhões previstos para o Pan, foram gastos R$ 3,7 bilhões. Uma diferença mínima, convenhamos. Equívocos pequenos como estes já eram previstos. Afinal, no país onde o presidente não sabe muito bem se a extensão do território nacional é de 8 milhões de metros, 8 milhões ou 800 mil quilômetros, não é de se estranhar mais nada. Além disso, foi Lula mesmo quem disse que: “Nestepaiz tudo cresce. A economia cresce. Só o que cai é o salário. Digo, a inflação.”, em outubro de 2006, ao vivo, no debate da Rede Globo, transmitido para todo o país.
Mais vaias ao Apedeuta. Palmas aos cariocas e suas camisetas “Eu vaiei Lula no Pan” e a Freud, com suas explicações sobre a mente humana e o ato falho.
O Pan das Sete VaiasPor Reinaldo Azevedo – colunista da Revista Veja
Lula foi vaiado seis vezes na festa do Pan, como sabem. Na verdade, sete. Há uma vaia que não está sendo contabilizada aí. Alguns internautas ainda não viram ou não estão com a coisa devidamente organizada. Então vamos lá:
1ª vaia – Se você clicar
aqui, tem acesso à primeira vaia da noite, quando é anunciada sua presença no Maracanã. Ouvem-se vozes dizendo: "Toma!". Galvão Bueno ainda tenta achar uma
explicação para a manifestação.
2ª, 3ª e 4ª vaias – Acontecem quando há a saudação oficial, com a citação do nome do presidente: é vaiado em três idiomas... Clicando
aqui, você ouve a saudação em português. Se a gente apura bem os ouvidos, percebe um coro de vozes gritando, de forma ritmada, um dissílabo terminado em “ão” muito usado em estádios de futebol.
5ª vaia – A quinta vaia acontece quando Carlos Arthur Nuzman cita o nome de Lula. Talvez tenha sido a mais forte. Até agora, não achei no YouTube.
6ª vaia – Acontece quando o mexicano Mario Vázquez Raña, presidente da Organização Desportiva Pan-Americana, chama Lula para abrir os jogos — coisa que o brasileiro acaba não fazendo. Veja o vídeo
aqui. Clicando
aqui, você vê o tratamento discreto que o Jornal Nacional dispensou ao episódio.
7ª vaia – Ela aconteceu, vejam só, já no ensaio geral, como se vê
aqui. Na ordem cronológica, foi a primeira.