Segunda-feira de manhã meu carro estragou, e foi parar no mecânico. Fui correndo pegar o ônibus, pois táxi nem pensar! Ainda bem que pego no terminal, assim posso ir sentada, lendo um livro, dessa forma, a “viagem” passa mais rápido. No ponto seguinte, senta ao meu lado, um senhor com seus 70 anos, e começa a falar. Não percebeu que eu lia, não gostei muito da interrupção e só consentia com a cabeça. Falava sobre sua chegada em Curitiba, dos dias difíceis que enfrentou...
Telefone toca, era o meu mecânico. “Ah! Claro, a correia dentada.. o bico da injeção.. Se eu troco o óleo? Claro!... Válvula termostática”.. Desligo o telefone, entendi tudo o que ele disse, brincadeira, é claro que não entendi nada, mas entendi quando deu o valor do conserto, mil e quinhentos reais. Minha semana não poderia ter começado melhor!
E minha conversa, ou melhor, o monólogo se reinicia, mas quando me vi estava envolvida em seu momento de nostalgia, parecia ter sido um período bom depois que conheceu sua esposa, tiveram filhos, construíram uma vida em comum. Novamente toca meu telefone, meu interlocutor é interrompido novamente, mas parece não ligar muito para isso. Era minha amiga Gisele. “Não devia ter acordado hoje, Gi...o fora que levei ontem... Ah, ele foi embora! Eu lhe disse que ele havia feito aquele concurso... E agora o carro.. Pois é, estragou, terei que desembolsar mil e quinhentos reais! Não sei como vou fazer para pagar...” Enquanto derramo minha fúria sobre minha amiga, olho para o meu novo amigo ao lado, enxergo a experiência e a calma em pessoa; alguém que realmente acredita na sabedoria da vida e tento me acalmar, pois também estou em um lugar público. “Vou ficar bem.. Não se preocupe.. também sei disso... Quanto ao Gui, vai ficar tudo bem, sim... Claro que sei que vou encontrar meu grande amor, não era pra ser... Eu acordo todos os dias e peço para vida me mandar um, para eu casar e ter filhos...Tudo bem, estou brincando com relação ao casar e ter filhos, mas gostaria muito de viver um grande amor, daqueles que você sente até frio na barriga quando vai encontrá-lo, e ouve sininhos quando o conhece... mas é isso, o ônibus está chegando no meu ponto.. até depois...”
O ônibus pára no ponto, o senhor que está ao meu lado também se levanta. Despedimos-nos.. Tenho que correr, estou atrasadíssima para uma reunião agora cedo. Olho para trás e vejo meu contador de histórias, e parecia meu perdido. Olho novamente o relógio, penso “tenho que voltar, mas e a reunião? Depois eu resolvo isso. Vou voltar.” Volto, ele me pergunta se posso ajudá-lo com um endereço. Claro que podia! “É a casa do meu neto, vim visitá-lo.” E lá fomos nós a procura da casa do seu neto, enquanto ele terminava a linda história que me contava minutos atrás. Chegamos, apertamos a campainha. E ao abrirem a porta, quando me lembro desse dia, tenho certeza que ouvi sininhos....
Coincidência?
Sinceramente, eu não sei.
“...Mas, afinal, de que adiantaria saber? ("Nós sabemos tão pouco...") Se existe uma tal ordem, a única coisa certa é que nenhum de nós pode compreendê-la ou controlá-la. Coisas ruins e boas acontecem... por acaso. Mas acaso talvez seja apenas o nome dos motivos que estão muito além do que alcançamos compreender, e do que jamais alcançaremos.”
André C. S. Masini
Dilka