sábado, 15 de setembro de 2007

Na cama


A cabeceira da cama ficava na altura de sua virilha. Ela não sabia disso antes. Sua mãe gritou lá de longe [feche essa cortina, menina...].


Ela teve que ficar numa posição esquisita para tirar a ponta da cortina detrás da cama - era com se a cabeceira ficasse entre suas pernas.


Sentiu umas cócegas que aceleravam o coração. Não chegou a ficar assustada. Só riu. Gargalhou. Achou bom.


ouça: sweet child o' mine (Luna).


Vanessa Nabokov

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Sexo! Sexo! Sexo!




Na verdade, bastava escrever a doce palavrinha uma vez. Sem ponto de exclamação.

Eu poderia ter digitado até conforme a nova ortografia a entrar em vigor no ano que vem: “secso”.

O efeito teria sido o mesmo. Captada estaria a total atenção do freguês. Não há ninguém no mundo que passe pela palavra e não dê ao menos uma conferida.
A suave, ou por vezes enérgica, conjunção das letrinhas são mais ou menos idênticas em qualquer língua falada e escrita. Sex, sexe, sesso e umpa-umpa são em seus respectivos idiomas originais, a saber, inglês, francês, italiano e somali, prontamente identificáveis por qualquer indivíduo ou indivídua, não importa o seu, uai!, sexo.



O sexo é a a coisa mais interessante na face da Terra. Não fosse ele e a própria, a Terra, isto é, não giraria e nem estaríamos todos aqui gozando, por assim dizer, das artes e estratagemas de Cupido, que é para dar uma coloração menos violenta a este texto. Embora um pouco de violência... Ah, deixa isso pra lá.
O que eu queria mesmo é chamar a atenção de quem passou os olhos por aqui. Se o senhorinho ou a senhorinha ainda me acompanha é sinal de quem fui bem sucedido. Podemos, pois, passar ao que realmente interessa. Sim, sim, claro, é sobre sexo!


Por que fazer sexo?


Por que é que os seres humanos fazem sexo? Ou têm sexo. No sentido de um no outro, coisa e tal.


Não estou querendo me fazer de engraçadinho, mas esse é o título de um artigo publicado na augusta edição de agosto da revista Arquivos do Comportamento Sexual, publicado pela editora da Universidade do Texas, na cidade de Austin, e assinada por Cindy Meston e David Buss, que, no por certo prestigioso estabelecimento escolar, realizaram uma pesquisa entre 1549 participantes.



A pergunta indagava das pessoas os diversos motivos para terem, fazerem ou se envolverem em sexo. O questionário constitui, segundo as pessoas que entendem disso (de pesquisas e não sexo), a mais extensiva lista de motivos para a propagada copulação, para dar um nome nada eletrizante ao mais antigo dos passatempos (“passatempo” foi um dos apelidos dados ao ato, ou “acto” como dizem os portugueses, coitados, em questão).


Um pequeno parêntese: Cindy é nome de acadêmica sexual? Mesmo no Texas? Cindy ou é boneca ou pseudônimo de moça de programa. Sejamos sinceros.
Vamos a algumas das motivações conforme o texano estudo. “Eu estava com vontade de reproduzir” (motivo que pegou o 231º lugar). “Eu queria me castigar”(motivo 148). “Eu (ou ela) estava ovulando” (motivo 232). “Trata-se de meu imperativo genético” (motivo 180). “Eu estava apenas querendo reproduzir” e “Eu queria fazer um bebê” (empatados no motivo 27).

Uma dessas coisas que acontecem
Sem dar a ordem da motivação, os texanos – diga-se de passagem – 96% dos quais entre os 18 e os 22 anos, 5% judeus e 36% cristãos fundamentalistas – optaram ainda pelas seguintes motivações, desculpas ou pretextos, conforme queiram:


- Eu queria passar pela experiência.
- Eu precisava me sentir atraente.
- Eu necessitava me sentir feminina. (Apenas no caso das mulheres. Espero.)
- Eu estava a fim de me sentir bem comigo mesmo(a).
- Eu queria me conectar com a outra pessoa.
- A outra pessoa era inteligente.
- A outra pessoa tinha muito senso de humor.

E motivo que não acaba mais. Já entrei, mais do que devia, nos méritos do assunto. Abstenho-me de comentar, além de citar apenas mais dois dos motivos mais populares para, no Texas, tendo entre 18 e 22 anos de idade, queimar incenso no altor de Eros, conforme diziam as pessoas educadas e meio virgens de meu tempo:


- Todo mundo estava indo nessa.
- Foi uma dessas coisas.


Texto de Ivan Lessa

Postado por Aliane Kanso






Joaquim


De uns tempos pra cá, me sinto fogosa, inquieta, aventureira, libertina, libidinosa, só o prazer me interessa. Não posso ver um homem que me chame atenção, que logo começo a desejá-lo. Quero prazer na minha parte mais secreta e sensível, ainda mais se vier através de um desconhecido, pois assim me deixo seduzir facilmente. Quero ser descoberta e poder realizar meu desejo mais íntimo.
Num mundo de amores descartáveis e sexo “a granel”, resolvi ficar com o segundo. Agora só gemidos, sussurros, cheiros, líquidos, orgias, lambidas e gozo tem importância. Sexo puro e simples. Amor e paixão tornaram-se coisas do passado.
Um dia, um encontro casual me proporcionou tal desejo. O nome dele era Joaquim, moreno, alto, bonito, olhos negros, pele alva. Nos cruzamos numa praça da cidade, quando eu estava a caminho do trabalho. Assim que nos vimos, esquecemos cada um os seus respectivos compromissos, e corremos para o carro dele, transamos loucamente, sem nos importarmos com nada e com ninguém.
Joaquim beijou-me uma vez e acariciou meu corpo todo. Buscou meus seios incessantemente com suas mãos grandes, porém hábeis. E foi ele quem conseguiu descobrir minha parte mais secreta e sensível e me deu prazer. E assim, deixei, que ele liberasse o seu desejo entre as minhas pernas e fizesse o que quisesse de mim. E ele fez. E eu, que disse que amor e paixão faziam parte do passado, estava me sentindo a mulher mais amada do mundo.

Camila Age

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Vagão Vazio



O inferno das pessoas é a maldita repetição. A tal da rotina. Saía do trabalho às 21h, pegava a condução ainda lotada e fazia um percurso de quase uma hora. Saltava do ônibus na Praça da Sé e ali embarcava no metrô. Percorria os comboios até achar um vagão vazio, ou quase vazio. Chegava em casa tarde da noite. “Vida de Merda” pensava Sílvia.

Naquela quarta-feira saiu do trabalho ainda mais tarde. Chovia. A lotação apinhada. Gente em cima de gente. Semblantes fechados, mal humorados, distraídos e distantes. Em pé, Sílvia quase nem precisava se segurar, havia tanto passageiro que era impossível cair com uma freada. Os corpos seguravam uns aos outros.

De repente sentiu que alguém se encaixou atrás dela. Era um homem negro grande, corpulento, cheirava a cimento e cal e suor e chuva. Em seguida sentiu a mão do homem pousar sobre sua pelve. Sem nenhuma cerimônia. A mão puxou-a, como se tentasse acomodar o seu traseiro no membro rijo. A primeira sensação foi de repulsa. Mas em seguida foi tomada por um desejo incontrolável de se deixar possuir por aquele desconhecido. Sílvia inclinou levemente a cabeça e olhou pra trás, só com o canto dos olhos, como se autorizasse ao estranho fazer o que quisesse. Ele se encostou ainda mais e pressionou seu pau com força entre a bunda redonda coberta pela saia justa. Ele fazia aquilo quase que com raiva, como se quisesse rasgar ela ao meio. A cada movimento Sílvia sentia mais prazer.

Chegou à Praça da Sé, desceu do ônibus e foi para estação, pegar o metrô. Viu que o estranho a seguia. Ela sentia um misto de medo e desejo. Como se a vida não tivesse graça e aquilo que acontecia naquele momento fosse o ápice da maior glória que pudesse esperar.

No metrô procurou o vagão vazio, como de costume. Ele a seguiu. Quando o achou, parou, e, voltou-se para o homem que a perseguia. “Olha pra frente, dona, nada de olhar pra minha cara”. Ela obedeceu. Ele chegou bem perto e ergueu a saia de Sílvia com brutalidade. “Você quer pau é, dona?” Ela não falava nada. Só permitia. Ele a ajeitou de costas, abriu o zíper e enlaçou-a, apertando-a tanto que a machucava. Penetrou-a, com malvadeza. Ela gemia de prazer e dor. Depois de alguns movimentos rápidos e fundos, grunhiu. “Pronto, dona, acabei.” Sumiu.

Durante meses matava tempo no trabalho para pegar o ônibus atrasada e, quem sabe, encontrar o seu desconhecido. Dentro do ônibus, não olhava nunca pra trás, só respirava fundo procurando o cheiro de cal e suor. Não ficava um dia sem pensar naquele homem violento que fez daqueles instantes o momento mais feliz de sua vida.



Mônica Wojciechowski


terça-feira, 11 de setembro de 2007

Ninfomania

Filho da puta, não me dirige uma palavra, mal nos olhamos.

Me deixa gemendo ridícula.

Deita o rosto na minha coxa esquerda, respira o cheiro dos meus lábios.

Apaixonado pelo meu útero, esse homem. Quer me entupir de filhos. Que saiam por onde ele entrou.

Encosta o ouvido direito no meu umbigo. Escuta os sons dos meus órgãos. Se alimenta da minha pele e lambe os meus cabelos.

Finge arrancá-los enquanto esconde o desejo de que seus filhos nasçam com a mesma cor de cabelo de índia.

Tentamos nos acomodar na mesma cama de solteiro.

Diz que gosta do meu cheiro.

Não quero nada seu. Mas que venha todas as noites. Dizer que me ama.

E eu, não amo ninguém, só falo putaria.

postado por Paola

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Ninfomania


São os meus lábios, tremem de euforia,

então bebo teu gosto de mulher,

não espero, pois é de endoidecer,

a minha espada é tua anestesia.


Neste louco tropel com agonia,

escancarada e já pronta a abater,

com tua arma feminina do prazer,

me suga a carne e o leite em primazia.


Minh’alma resplandece com poesia,

mas te profano igual zinha qualquer,

com atos e palavras,

corrompervinculado em tua carne noite e dia.


Saciados da sede, fome e orgia,

cantamos o triunfante poder,

derramamos as juras pra viver,

na alcova em ritual ninfomania.

Michel H. Baruki


Postado Por Carlota Joaquina

TEMA DA SEMANA


NINFOMANIA

domingo, 9 de setembro de 2007

A Passagem




Se o gato morresse amanhã, estaria hoje dormindo, encantadoramente, sob o escaldante sol que lhe colore a íris e reduz a um traço suas diminutivas pupilas.

Se a tulipa morresse amanhã, estaria sorvendo com vigor o orvalho fresco trazido pela chuva fina que anuncia o amanhecer.

Se o lápis morresse amanhã, estaria hoje sendo empunhado de canhota, fazendo nascer um belo poema de métrica simples e sentimento nobre.

Se o beijo morresse amanhã, estaria hoje acendendo em dois corpos um incontrolável e delicioso desejo, através do compasso sincronizado de duas línguas que costumavam estar, até então, distanciadas.

Se o poder morresse amanhã, hoje estaria ostentando como nunca sua coroa e cetro, ou então-paradoxo!- estaria abandonando o trono, sem hesitar.

Se a amizade morresse amanhã, hoje estaria sorrindo de felicidade e chorando de saudades, agradecendo aos deuses por um dia ter sido tão, absolutamente, viva.

Se a palavra morresse amanhã, estaria hoje transcendendo todos os idiomas, assumindo que a única palavra que interessa é AMOR.

Se eu morresse amanhã, todo meu universo estaria funcionando com uma dose extra de prazer, despedindo-se comigo, de maneira sublime, dessa vida repleta de abstrações.

Sabrina Moreira