sábado, 8 de setembro de 2007

Cabô


"Vamos irmãos, orai! O mundo vai acabar amanhã!! Você aí, senhorita. É você mesma. Deus mandou te dizer que Ele está triste com seus atos, que não está contente. Arrependa-se! O mundo vai acabar amanhã"


Maria Lúcia desceu correndo as escadas do metrô. Vai que acabe mesmo. Mas não achou que tinha que se arrepender de nada não. Aquele cara com quem saía era casado mas e daí. Não era assim um pecadão. Ela não era casada... Se não soubesse que ele era casado então não seria pecado dela. Se ela perdesse a memória? Acho que é assim. Ela também. Se não vê não existe se não crê não existe.


Pior é que ela cria que o mundo ia acabar mesmo. Fodeu. Era mais ou menos seis da tarde, teve um acidente na linha que ela pegava. Putz... E se acabar mesmo? Fica parada aqui na estação, nem vê o nego dela... Hoje é quinta-feira, dia de cerão na firma dele... A mulher dele acredita que ele fica até mais tarde na firma, então não vê problema... Nunca desconfiou...


Maria Lúcia nunca tinha pensado em coisas metafísicas assim desse jeito... Se acreditasse que poderia voar, voava? Acho que não... Mas se ela nunca ficasse sabendo que o Jonas era casado então não pecava?


Só chegou em casa perto das nove horas... Achou que ia encontrar o Jonas quando chegasse, mas ele não foi. Mandou um telegrama - BONECA CAIU PT FOMOS DESCOBERTOS PT SAUDACOES PT JONAS


Ficou uns minutos sem ação. Picou aquele papel e jogou no vaso sanitário. Deu a descarga, não olhou. Tomou um banho bem demorado...


Acreditou que era o último dia. Esqueceu que aquele telegrama tinha chegado. Sentou na pia e comeu todo o arroz-doce que tinha na geladeira.



VANESSA PT


Ouça: Juízo Final, Nelson Cavaquinho

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Minha despedida


Engraçado. O tempo é tão relativo. 24 horas parece ser um montão quanto temos que esperar por algo. Cada minuto é quase uma eternidade quando estamos fazendo alguma coisa que não gostamos. Da mesma forma, freqüentemente, pensamos que uma vida inteira é muito tempo. Na verdade, se pensarmos bem, não é. Normalmente achamos que temos muito pela frente, e não queremos ver que o caminho, às vezes, nos pega de surpresa. No final das contas, a contagem sempre foi regressiva. Mas, se fosse possível saber o prazo final, eu faria assim:

Eu acordaria bem cedinho, antes mesmo de o dia amanhecer. Passaria na casa de cada uma das pessoas que são importantes para mim, minha família e meus amigos. Depois, todos juntos, em uma grande caravana, pegaríamos a estrada. Guiando minha moto, eu iria à frente. Observaria com muita atenção cada detalhe do caminho e faria questão de curtir as coisas simples como o frio, a chuva, o vento e o cenário.

O destino seria uma praia deserta, mas não muito longe. Chegaríamos quando ainda é escuro. Faríamos uma fogueira e, sentados na areia, em silêncio, esperaríamos o nascer do sol. Tudo seria registrado na memória e gravado no coração. Contemplaríamos cada raio de luz que toca o horizonte e o brilho dourado que ele deixa no rosto de cada pessoa.

Tomaríamos o café da manhã numa grande mesa, composta por vários lugares. Entre as frutas, pães e sucos, saborearíamos o doce sorriso um dos outros. Depois, faríamos uma longa caminhada a beira-mar. De mãos dadas, passo a passo, sentiríamos o suave toque da água e o frescor da brisa marítima.

À tarde, de baixo da sombra de uma árvore, faríamos um grande piquenique. Lembramos de todos os bons momentos que já vivemos juntos. Todos os natais, festas de ano-novo, aniversários, férias e dos mais especiais dias comuns. Todos os momentos de superação, desafios e conquistas. Riríamos muito. Provavelmente, choraríamos também. Este dia seria, sem sombra de dúvida, recheado de muitos beijos e abraços. Aproveitaria a oportunidade para, incansavelmente, dizer a todas as pessoas o quanto as amo e pedir que me perdoem por todos os meus incessantes erros.

A confraternização só seria interrompida caso Deus nos presenteasse com uma refrescante chuva de verão. Daí, todos correríamos para a linda cachoeira, que fica um pouco escondida, mas que não é difícil de achar. Lá tomaríamos o melhor banho de nossas vidas. Só sairíamos de lá, quando estivesse quase anoitecendo. E, mais uma vez, em silêncio, nos despediríamos do sol e de toda a beleza de nosso redor.

Faria alguns momentos de reflexão. Ficaria, por alguns instantes, sozinha. Nesta hora, escreveria algumas cartas. Em uma delas, dirigida a todos, pediria para que, no próximo ano, no mesmo lugar e na mesma data, esta mesma grande família se reunisse novamente e juntos, celebrassem a vida. Deixaria registrado também, individualmente, como foi bom ter vivido com cada uma das pessoas que fizeram parte da minha vida. Faria a entrega de todos os escritos. Daria um grande abraço em cada um e, depois de um dia tão emocionantemente feliz, iria dormir...

Aliane Kanso.



quinta-feira, 6 de setembro de 2007

A ÚLTIMA VISITA



Se eu soubesse que iria morrer amanhã, desmarcaria todos os meus compromissos e esperaria pela morte, assim como quem espera por uma visita. Tomaria meu último banho (de banheira), com todos os óleos, espumas e cheiros perfumados, depois usaria o meu creme favorito, vestiria minha melhor roupa e usaria quase o vidro inteiro do meu perfume predileto, e não esqueceria do meu body lotion, de mesma fragrância, é claro. Não poderia morrer de outra forma, que não perfumada.
Quando a campainha tocasse, teria certeza de que era ela. Estaria com a casa arrumada e com um cafezinho pronto. Pediria que a morte esperasse só mais uns minutinhos, e me contasse algumas estórias do mundo de lá, antes de me levar do mundo daqui.
Depois disso, ela poderia me levar, pois tempo para falar de amor, para pedir perdão, para curar culpas não haveria mais. Assim, como também não haveria mais TEMPO para os sonhos que não viveria, para os homens que não amaria, as camas que não deitaria, as bocas que não beijaria, para os filhos que não teria, para as viagens que não faria, os lugares que não conheceria, as pessoas que deixaria, os amigos que não faria, os livros que não leria, os filmes que não veria, os cheiros que não sentiria, os gostos que não provaria, as músicas que não ouviria, os projetos que não realizaria e os aniversários que não completaria.
Mas na realidade, tudo isso, seria apenas um subterfúgio que eu usaria para fugir do medo da morte, que organizaria o meu caos, neutralizaria a angústia, aplacaria a impaciência, questionaria o essencial, desafiaria o meu tempo, aceitaria meu colapso, e eu resistiria até o último minuto.
No dia anterior a minha morte, materializaria a dúvida e questionaria a minha vida de 29 anos.

Camila Age

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Hoje é o primeiro dia do resto de sua vida...






Anjo — Você vai morrer amanhã.

Flávia — Que?

Anjo — Isso que você ouviu. Amanhã é seu último dia aqui na terra. Você vai embora comigo. Conhecer o Reino dos Céus.

Flávia — Jura? Que legal.

Anjo — Como assim? Legal?

Flávia — Sei lá, legal! Conhecer lugares novos sempre é legal.

Anjo — Tem alguma coisa errada aqui, Flavinha. Sempre que eu conto isso para as pessoas, a primeira reação delas é ficarem meio putas da cara, depois, querem fazer em um dia, tudo aquilo que não fizeram a vida toda.

Flávia — Talvez seja por isso que eu não tou dando muita bola, então. Sempre fiz tudo que quis e dentro do tempo que me foi dado, vivi cada minuto intensamente e aproveitei cada momento.

Anjo — Sabe que é verdade, fazendo assim, uma retrospectiva da sua vida, não lembro de nenhum dia em que você passou no piloto automático, mesmo diante da rotina, você sempre deu um jeito de reinventar as situações e de encontrar prazer em tudo.

Flávia — E tem como ser diferente disso? Tem como estar em um lugar pensando em outro? Existe alguém que está com uma pessoa e pensa em outra? Que pensa em bolo de milho quando tem uma fatia de bolo de chocolate?

Anjo — É por isso que eu tou te levando tão cedo. Ah, doce Flávia, se você soubesse o que as pessoas fazem das próprias vidas... Você realmente não pode ficar aqui neste plano...



Mônica Wojciechowski adoentada e, consequentemente, sem pique pra escrever...

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Se eu morresse amanhã...


Daria uma festa. E já tenho um lugar para fazer isso. Terça-feira é dia de samba de raiz no Alice Bar. Já pensei no convite: “Vamos beber o morto”, e no meu caso “dançá-lo” também. Esse será meu velório, pois detestaria que fosse de outra forma. E para garantir que não haverá mesmo, pedirei à família que assine um termo se comprometendo a não realizar um. Resolvida a parte burocrática, vamos à festa! Contratarei a banda do Nilo’s bar, para quem não conhece são cantores fabulosos, e todos com mais de 60 anos, eu disse que era samba de raiz, e com direito a Cartola, Pixinguinha, Candeia e outros... A Janis Joplin que me perdoe, mas “quero morrer numa batucada de bamba, na cadência bonita do samba”, como dizia Ataulfo Alves e Paulo Gesta. E o que é bom para acompanhar um bom samba? A cerveja, é claro! Uma roda de samba e uma cerveja gelada, agora só faltam os amigos! E voltando ainda a parte burocrática da coisa, acho que terei que entrar no meu limite, raspá-lo para podermos fazer “a festa”. E eu quero me acabar de beber e dançar, dar muito beijo na boca, dizer àquele gatíssimo que sempre fui a fim dele e ir para casa bêbada, mas tão bêbada, que deitaria na cama e a única coisa que eu pensaria era que não teria nada de ressaca, que não teria dor de cabeça, e que não me envergonharia do que fiz, ressaca moral, nunca mais. Não, não foi uma brincadeira de mau gosto, mas no último dia vale tudo!


Dil

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Se fosse meu último dia eu...

"Para morrer bem é preciso viver bem”. Confúcio

Pediria perdão para as pessoas que amo. Pois, mesmo sem querer, às vezes magoamos o outro.
Diria às pessoas especiais da minha vida, como elas são especiais.
Beijaria e abraçaria todos que eu pudesse, não que eu não tenha o feito, pois adoro abraçar, mas por ser a última vez.
Compraria aquele sapato só pra ter o prazer de tê-lo usado.
Comeria de tudo um pouco, pois a dieta sempre me faz comer um pouco de quase nada.
Doaria mais sangue.
Usaria o vidro inteiro daquele perfume que sempre deixo para as ocasiões especiais.
Acordaria mais cedo para contemplar o nascimento de mais um dia.
Pularia de pára-quedas.
Faria amor no banheiro de um restaurante.
Nadaria numa piscina de gelatina.
Diria EU TE AMO pra todos que eu amo, não que eu não diga, mas pela última vez.
Estacionaria em lugar proibido só pra levar uma multa que não terei que pagar.
Diria aquele chato que ele é um chato.
Tomaria um banho de chuva nua.
Pisaria na lama como quando era criança.
Quebraria uma taça de cristal na parede.
Ligaria pra a o máximo de pessoas que pudesse, só pra dizer oi.
Daria uma volta de helicóptero pela cidade.
Tomaria um banho de mar.
Rasparia minha cabeça.
Entraria numa boite de strip tease, pra ver como é.
Sentiria o cheiro de grama recém aparada.
Como não daria tempo de viajar pros lugares que gostaria de conhecer, deixaria passagens aéreas pagas pra minha mãe conhecer no meu lugar.
Dançaria um tango.
Não me irritaria.
Pagaria todas as minhas promessas e dívidas.
Faria massagem tailandesa.
Faria carinho em um golfinho.
Colheria flores.
Sentiria o cheiro da chuva caindo sobre a terra.
Tatuaria uma linda índia nas minhas costas.
Comeria frutas no pé.
Pilotaria um avião.
Tomaria um vinho chileno.
Faria amor num balão.
Plantaria mais uma árvore.
Agradeceria por ter tido a oportunidade de ter esse dia.


“A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos.” Dalai Lama

by Carlota Joaquina
Bem Viva Graças a Deus.

domingo, 2 de setembro de 2007

TEMA DA SEMANA: O QUE VOCÊ FARIA SE MORRESSE AMANHÃ?


ÀS AMÉLIAS QUE NÃO QUERIAM TER SE TORNADO ALFA


Malditas sejam as piro maníacas incendiárias do sutiã.

Essas incontidas revolucionárias arrancaram a mulher de sua inigualável e abençoada posição feminina, a puseram pra competir frente a frente com o masculino. Fizeram isso em nome da liberdade: doce engano. Mal sabiam elas do tamanho e força do poder feminino.

Digo isso porque, há um abismo de distância entre a mulher feminina e a feminista. Enquanto que a última empunha suas armas e vai à luta diariamente, competir com um adversário, indiscutivelmente, mais forte que ela – o homem, a primeira nem precisa travar guerra, pois já está com a batalha ganha.

A feminista conquista aquilo pelo qual disputa, enquanto a feminina consegue o que deseja – o que é muito mais simples, sutil, delicado. E é desse jeito que a mulher feminina conquista não só os homens, como o mundo: naturalmente. Não há o que provar, não precisa competir. Já a feminista...

Enfim, homens e mulheres, por serem diferentes, têm papéis distintos, e ponto. Qual é o problema disso, oras? Eu, sinceramente, não entendo o porquê das mulheres quererem assumir funções masculinas. Querem dividir as contas da casa, trocar as lâmpadas queimadas, sentar na cabeceira da mesa, tudo isso de batom na boca e scarpin no pé, só pra garantirem que ainda são fêmeas. Ah, é claro, querem também ter um homem ao lado – lógico, se não quisessem seriam lésbicas, ou então assexuadas.

Portanto, esse conceito de mulher alfa não passa de um feminismo exacerbado disfarçado de feminilidade, através de um belo corte de cabelo e uma maquiagem bem feita. Fêmeas, porém não femininas.

Não precisa, feministas, ser somente alfa. A mulher pode escolher ser a alfa da família, a beta do relacionamento, a gama do trabalho, e assim por diante, até o ômega. Ou seja, a mulher detém de todo o alfabeto grego para si. É só saber usar.


Sabrina Moreira, a convicta antifeminista que não escapa de ser, por vezes, mulher alfa