quinta-feira, 21 de junho de 2007

CAMILLE CLAUDEL DO SÉCULO XXI

Paris, 1885: a jovem escultora Camille Claudel de apenas 21 anos, entra em conflito com sua família burguesa ao tornar-se aprendiz e, logo depois, assistente do famoso escultor Auguste Rodin.
Quando se torna amante de seu mestre - que tinha o dobro de sua idade -, vira motivo de intriga junto à sociedade parisiense. Depois de quase 15 anos de um relacionamento conturbado, Camille rompe o romance com Rodin e aí começa a mergulhar na solidão, no álcool e na loucura.
Auguste Rodin tinha uma personalidade machista e questionável. Ao perceber o talento de sua pupila, sente-se ameaçado e passa a adotar uma postura que prejudica a espontaneidade do trabalho de Camille Claudel. Torna-se perfeccionista, exigente e crítico, a ponto de adiar uma exposição de sua aluna, com medo de ser superado por ela.
Apesar de seu talento e de sua fama, Rodin não colocava literalmente a mão na massa, pois tinha inúmeros assistentes, os quais obrigava a trabalhar duro para que ele depois, só desse o toque final. Camille trabalhou vários anos a serviço de seu mestre, mantendo-se à custa de sua própria criação.
A escultora resolve romper em definitivo com Rodin em 1898, quando percebe que ele não vai se separar de Rose Beuret com quem é casado (apesar de negar) e quando se vê usada emocional e profissionalmente pelo homem que ela tanto amava.
Depois disso, continua sua busca artística, mas em grande solidão, ferida e desorientada. Seu amigo Eugéne Blot, organiza duas grandes exposições, esperando reconhecimento e assim, um benefício sentimental e financeiro para Camille, mas ela já está doente demais para se reconfortar com os elogios.
A partir de 1905, seu estado de saúde piora; ela já não se alimenta mais. Seu pai, que era também seu porto-seguro, falece no dia 3 de março de 1913 e no dia 10, ela é internada como louca, na Casa de Saúde de Ville Evrard. Por causa da Primeira Guerra Mundial, é transferida em 19 de setembro de 1914 para o asilo de Montdevergues, onde passa os próximos 30 anos (praticamente sem ver a família), até falecer em 1943, aos 79 anos.
Este é um breve histórico da maior escultora da segunda metade do século XIX e primeira do século XX. Não teria como me colocar no lugar de Camille Claudel nos dias de hoje, se fosse possível, sem escrever o mínimo sobre sua vida.
A Camille Claudel contemporânea e amante de Rodin, tem uma postura diferente, não no seu fazer artístico – que é inquestionável-, mas na relação de amante e aluna do mestre. Hoje ela não mais se submete às pressões de um homem vaidoso, arrogante e que tolhe a mulher em suas potencialidades, por medo de ser suplantado por ela. (Não se pode negar o mérito e o talento de Auguste Rodin, mas para ele era insuportável uma concorrência tão próxima).
A minha Camille de hoje não obedece a padrões vigentes em detrimento de sua arte, ou de qualquer outro valor que possua. Ela não se deixa intimidar pelo poder de um “homem-vampiro” (como foi Rodin), que suga toda a sua força a ponto de fazer com que esta mulher que aposta tudo nele, perca tudo com ele.
A Camille Claudel do século XXI não é a mesma da maior escultora da segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX, porque a partir do momento em que ela conquista seu espaço, ela segue seu caminho sem olhar para trás.
Ela se entrega furiosamente ao que acredita, e não se deixa ser vitimada pela sociedade e pelo sexo masculino, como se deixou ser a verdadeira Camille Claudel.
A Camille de antigamente tinha personalidade forte, era intransigente, impulsiva, passional, desconfiada, determinada, apaixonada e acima de tudo talentosa, “o gênio assusta sua época. A sua arte tornou-se tão grande que não se pode compreendê-la”, como disse seu amigo Eugéne Blot, no filme Camille Claudel de Bruno Nuytten.
Talvez se não tivesse sido vitimada pela sociedade (muito mais que pela loucura) e invejada pelo homem que mais poderia ter lutado pelo seu sucesso, Camille Claudel hoje, teria sua arte reconhecida, como sempre deveria ter tido.
Mas séculos viram, anos passam, mulher é sempre mulher e ainda existe uma ou outra Camille de antigamente, que tem no homem o seu ponto sensível, nevrálgico até.
Mulher esta, “que tem apenas o tempo sobre os ossos, a moça que perdeu a juventude, a Santíssima Trindade, a trindade do vazio”, como disse Isabelle Adjani, na pele de Camille Claudel, a verdadeira, no filme de Bruno Nuytten.


By Camila Age

9 comentários:

Anônimo disse...

eu amo esse filme e amo Camille.
ótima lembrança e homenagem!

Anônimo disse...

Oiiii Camiiiii

Saudades menina!

Excelente escolha!

Beijosssss

Anônimo disse...

Muito bom o texto, parabéns !
E o filme com a isabelle adjani vestindo a pele da camille claudel realmente vale pena ser assistido.

Anônimo disse...

Texto lindo e tocante.Parabéns!

Anônimo disse...

oi, cami! legal o texto. um relato histórico bem bacana.
beijos

Unknown disse...

Queridos, obrigada pelos comentários. Só pude ler agora pois estava sem internet em casa. Realmente a Camille não teve na em vida o reconhecimento que sempre mereceu, infelizmente. E quem não viu o filme com a Isabelle Adjani, vale a pena.
Beijos a todos

Unknown disse...

Cami, muito bom o texto, apesar de trágico...! rs
será q alugam coisa em sua vida anda te influenciando? acho q não né, está tudo se encaixando!
torço por vc miga, agora e sempre.
beijos

Anônimo disse...

Agora que eu vim ver o teu blog, meio atrasada eu sei...
mas ainda bem que decidi fazer Nutrição e nao Jornalismo, assim nao tenho q competir ctg!
Apesar de nunca ter ouvido falar em Camille, o teu texto me fez pensar!
Beijos

Anônimo disse...


Camila
Quem te garante a ti que Camille,hoje,teria sua arte reconhecida?
Quanto à «tridade do vazio»...é preciso contextualizar.