quinta-feira, 14 de junho de 2007


Ovnis and loves

Desde 2001 a situação se repete: Teodora não sai da cama, aliás, praticamente não acorda. Sempre sonolenta, melancólica e apática.

Mesmo passados seis anos, ela não consegue esquecer. Esquecer ninguém consegue, mas no caso de Teodora, “voltar a viver” é um sacrifício. Mais fácil, e talvez o mais correto (assim ela pensa), é esperar a sua hora chegar.

Aquele ditado de que o tempo é o melhor remédio, para ela não funciona. A lembrança e a dor daquele último contato, ainda são intensas e vivas demais para que ela possa suportar.

As sessões de terapia duas vezes por semana, uma dose diária pela manhã, de Citalopran e um comprimido de Rivotril à noite para dormir – nunca mais conseguiu pregar os olhos-, já não são suficientes. Teodora está com quase 30 anos e desde os 24 sua vida está parada: esqueceu os amigos, a família, perdeu o emprego, parou a faculdade -estudava arquitetura -, engordou e emagreceu, enfim, só está viva porque apesar de tudo, lhe falta coragem de ir embora deste mundo, “a dor da perda incomoda quem não a sente”, como disse uma vez.

Batalhadora, versátil, segura, Teodora também adorava uma balada, um cinema, um happy hour com as amigas depois de um dia cheio de trabalho e claro, assim como toda menina da sua idade, gostava de namorar.

Conheceu Felipe através de amigos em comum. Ele era um sujeito boa pinta, da idade dela, inteligente, estudante de música talentoso – estava se preparando para ser pianista -, moreno, alto, bonito e sensual (tudo o que ela sempre sonhou).

Faziam coisas que qualquer outro casal apaixonado faz: shopping, filme com pipoca em casa nos dias de frio, churrasco com os amigos, praia nos finais de semana, um jantar à luz de velas, natal, aniversário, ano novo, dia disso, dia daquilo, enfim eram um grude só.

Mesmo juntos por apenas dois anos, o namoro era intenso e sempre correu bem, isso até Felipe começar a ter um comportamento duvidoso, para não dizer estranho.

Em uma noite fria de 25 de maio de 2001, Felipe estava deixando Teodora em casa, depois de um jantar romântico, quando de repente sem mais nem menos, olhou para o céu e disse:

− Estas luzes me cegam!!

Sua namorada achou estranho, mas não disse nada, apenas lembrou que dias antes, ele tinha feito um comentário tão esquisito quanto este. Na ocasião, Felipe disse que ao olhar para as estrelas, sentia uma vontade imensa de chorar.

Teodora achou melhor nem dar bola para os comentários do namorado, pois Felipe estava passando por uma crise em casa, e achou que quando seus problemas familiares passassem, ele também melhoraria. Ledo engano.

Uma semana depois, ela encontra em meios as coisas dele, livros e revistas sobre discos-voadores, extraterrestres e afins. Estava explicado o comportamento do namorado nos últimos dias. Felipe, incomodado com a situação e sem saber que a namorada já o descobrira, resolveu que lhe explicaria tudo:

− Amor, sei que tenho tido um comportamento estranho, que esqueci até do nosso namoro, mas é que estou passando por problemas, acho estou vendo “coisas de outro mundo”.

−Você não vai me falar que anda vendo extraterrestres e discos voadores.

−É, é isso mesmo, por isso te disse das luzes àquela noite, acho que era um disco voador.

Teodora ficou indignada:

−Pelo amor de Deus Felipe, não me faça rir!! Agora só falta você dizer que papai Noel também existe. Bem que eu desconfiava que você não andava bem da cabeça.

Felipe achou melhor conversar com a namorada depois, já que o clima estava ficando pesado. Beijou-a e foi embora. Embora para nunca mais voltar, sumiu sem deixar vestígio algum.

Doze de junho de 2007, 10h da manhã: Teodora toma o Citalopran e ainda continua um pouco sonolenta, melancólica e apática, porém consegue levantar da cama, afinal, hoje é dia dos namorados e ela quer encontrar Felipe, ainda mais agora, que se tornou uma especialista em Ufologia.

Como??? Ah, os livros e revistas do Felipe lhe foram muito úteis.

Camila Age (Cami).

8 comentários:

Anônimo disse...

Bom dia

Hoje acordei com dor de cabeça e cheia de afta na boca. Estava puta com a vida, com vontade de mandar o mundo tomar no c*.

Aí, lá pelas 10h10min entro no nosso blog lindo e vejo o divertidíssimo texto da Cami... Morri de rir! É melhor do que "Saiu pra comprar cigarros e nunca mais voltou"... É surreal!!!

Gente! Estou amando esse blog! Minhas manhãs têm sido bem mais interessantes e divertidas!!!

Parabéns Cami!

Beijosssssssssssss

Carlota Joaquina

Anônimo disse...

Tadinha da Teodora, nem imagina que o Felipe foi abduzido pelas marcianas. hahahahaha Bacana, Cami, vou também jogar essa pras garotas que grudarem: tipo "essas luzes me cegam", "estou vendo ETs" e, de repente, fui! rsrs Esse Felipe... descobriu uma fórmula de outro mundo (literalmente) para escapar da pensão alimentícia. Vamos patentear, Cami! ;-) Beijão.

Anônimo disse...

Ah, esqueci de comentar: a foto noturna da Ópera de Arame ficou show!

Anônimo disse...

hahahah...

Verdade, Carla!
O voltou pra comprar cigarros e nunca mais voltou... ninguém merece!

Ser sequestrado por seres de outro planeta é muito mais interessante... heheheh

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Cami...
Parabéns pela estréia!!!!!
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Bjus,
Ali

Unknown disse...

Hahahaha. Obrigada Mário. Sabe que não tinha pensado nisso? Acho que o papo de luzes que cegam e estrelas que fazem chorar, também vão me ajudar um pouquinho a me livrar de alguns por aí( me achei agora neh?!)
E qto a patente, é de se levar adiante, hehehe.
Beijo

Anônimo disse...

Cami... não dá idéia.. hahahhaah.. foi ótimo, viu?? parabéns, nega!!

Unknown disse...

Miga!!
amei!!! como vc é talentosa guria!
mal posso esperar o próximo!
E com relação ao dia dos namorados: pra mim é dia dos falecidos, pois os coitadinhos merecem serem lembrados ao menos um dia, depois de sofrerem tanto com o fora!... ahahah
Muito beijos
Cassi

Lola Louca disse...

meu, surreal... muito bom