quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Second Life DA VIDA REAL





— Menina, desculpa a hora. Desculpa também ligar a cobrar. Mas tou aqui no aeroporto, de-ses-pe-ra-da. Acabou minha bateria do celular, ainda bem que consegui lembrar teu número. Foi o único, sabe? Tá frio aqui. Não tenho um puto no bolso. Será que você pode vir me buscar?

— Ah? Como assim? Cadê o Dimas? O que aconteceu?

— Nêga, vem vindo pra cá antes que eu apanhe e saia na capa da Tribuna amanhã. Daí te conto tudo. Mas vem logo, por favor.

— Ai, meu deus. Quer me matar do coração, caralho? Sabe que horas são? Quase uma da manhã. Mas tá bom, tou indo, se tranca no banheiro qualquer coisa.

Ai, e agora? O que faço? Preciso me acalmar. Agora já era. Não tem nada que eu possa fazer. A merda já fedeu... Primeiro preciso parar de andar de um lado pro outro, porra. Vou sentar. Isso, achar um banco bem no escuro. Deve ter um lugar por aqui que já tenham desligado as luzes. Vou ficar quietinha e esperar a Laís chegar. Ela não vai demorar muito, do São Lorenço a São José dos Pinhais deve dar uns 45 minutos de carro. Filho da puta. Que sede. Vou comprar uma água. Não acredito, os dois ainda estão lá? O que eles tão falando ainda? No saguão do aeroporto? Por que não vão resolver as coisas em casa? Ela já não viu o que precisava ver? Se fosse eu, ah, se fosse eu. Cachorro. Pior é que eu gosto dele. Sim, tem que gostar muito, né? Seis meses sendo a outra? Paixão enlouquecedora essa. Mas foi ele que começou. Lembro bem dos olhares dele nas reuniões que participávamos. Dos primeiros e-mails. Aliás, ainda tenho alguns guardados. E o dia que ele deixou um bilhetinho com o telefone embaixo do meu casaco? Pedindo pra eu ligar. Por que eu liguei? Se sabia que ele era casado há anos? Vai entender minha cabeça. Louca. Só pode ser isso. Me deixei envolver. Ele contando as histórias tristes, falando que não gostava dela, que precisava mudar a vida. Aquele papo de sempre. Só faltava inventar que a mulher era doente e que ia morrer logo. Eu dando uma de psicóloga e mulher bem resolvida. Que combinação. Ela ia viajar eu me mudava pra casa dele. Sexo a noite inteira. Sensação de vazio de manhã. Cadê o algo a mais? O café da manhã na cama? Laís cadê você. Será que ligo de novo? Nem sei quanto tempo já se passou. Vou esperar mais um pouco. No carnaval dei uma dura. Ele voltou antes da praia. Disse pra ela que tinha que trabalhar. Cismei. Não me ligue mais. Não quero essa vida pra mim, Dimas. Eu gosto de você, cara. Não quero transar só nos feriados que você larga a mulher na praia. Queria ter filho, sabe? Morar junto. Acho que a gente é muito diferente também. Mas gosto de você, porra, fazer o quê? Não vou pra tua casa não. Liga pra corna da tua mulher e manda ela voltar. Ou bate punheta. Ri. Desliguei. Mas, o tempo passou e acabei cedendo mais uma vez. Eu queria, sabe? Fazer o quê. Já sabia que não ia dar em nada mesmo. Fui conhecendo ele e me desapaixonando. E o sexo era bom. Não sei. Tanta desculpa que a gente inventa pra gente mesmo. Até que um dia falei. Vamos viajar então. Quero passar um final de semana inteiro com você. Ver como é acordar do lado, tomar café na cama, ver filme, tomar banho junto. Essas coisas de casal. Ele topou. Achei que não toparia. E foi esse o final de semana fatídico. Região serrana do Rio de Janeiro, divisa com São Paulo. Sexo, vinho, lareira. Pousada chique. Cama grande com lençol de malha. Ele disse que não agüentava mais viver duas vidas. Dei conselho. Falei que ele tinha que seguir o coração dele. Que achava que tinha que ficar sozinho um tempo. Tinha que mudar. Ser mais corajoso. Banho de cachoeira. Frio. Comidinhas gostosas. DVD do show da Norah Jones no quarto com a lareira acesa. Vinho. Baseado. Sexo. Será que o sexo era tão bom por causa da maconha?”

— Sua louca, te achei.

— Ai Lais, eu te amo, amiga. Que bom que você chegou. Tou tão nervosa.

— Vamos pro carro e você vai me contando. Você tá gelada. Tá muito frio aqui.

— Então, Menina, ela veio nos buscar no aeroporto.

— Ah? Não acredito que ela se prestou a esse papel?

— Sim. Foi horrível. O olho dela encheu de lágrima. Eu não sabia o que fazer. Ela tava meio escondida, atrás de uma pilastra, quando a gente a viu ela tava a menos de dois metros da gente. A gente tava de mão dada. Foi péssimo. Ele tava segurando minhas malas. Parecíamos casal voltando de lua-de-mel, sabe?

— E ele? Fez o que?

— Não fez nada. Me largou e abraçou ela. Foi conversar com ela. Acho que devem estar lá ainda. No saguão do aeroporto.

— Ah, mas ela vai terminar tudo, vocês vão ficar juntos. Imagina, ela não vai tolerar isso. Pegou vocês no flagra.

— Ficar junto? Ah, depois desse final de semana, não quero mais isso. Parece que o encanto morreu. Não sei bem ainda. Inseguro, pão duro, parece que ele não relaxa nunca, sabe? Metódico. Ui. Ficar junto um final de semana todo não foi fácil. Acho que é melhor eles se entenderem e eu pular fora. Você acompanhou tudo desde o começo, amiga, isso não poderia acabar bem mesmo.

— É. Ele é um ‘falcatrua’ mesmo. No mínimo vai inventar que vocês ficaram juntos só nesse final de semana. Que foi um erro. Ela vai perdoar e daqui uns dias estarão no mercado comprando ovos de páscoa. Você merece coisa melhor. Você sabe disso. É mulher demais pra ele. Mas e o lugar? A pousada?

— Tudo lindo, você tem que ir pra lá com o Marquinhos, amiga. Vocês vão amar. Tenho certeza. Putz, sabe o que é pior? São quase duas da manhã, tenho que escrever meu texto para o blog. Meu dia é amanhã. O tema dessa semana é second life, aqueles loucas escolheram esse tema, que tá super em voga hoje e tals, nem sei direito o que é...



Valentina Oceanlane

12 comentários:

Anônimo disse...

hahahha.... será que essa história é verídica... acho que non....

Anônimo disse...

Acho que conheço essa histórinha hahahahahahahahahahahahahaaaaaaaa

Ficou bem mais legal no papel!

Te amooooo!

Carlota de cara!

Anônimo disse...

Que loucura isso mulher! Até fiquei arrepiada...Beijos

Karina disse...

Qual foi a mulher bem resolvida que nunca comeu uma alface por vaidade, uma caixa de bis por ansiedade e um cafajeste por saudade?
Provável que as mulheres "meiguinhas" nunca passaram por isso e nem passarão. Também essas mulheres nunca aprenderão a serem felizes de verdade, terão sempre suas vidinhas artificiais, fingindo estar tudo belo.
Sua personagem, real ou fictícia, é mais comum do que se pensa. Ela se deixou levar por crer que consegue controlar as emoções, como se fosse possível qualquer humano controlar os sentimentos. Ah, Valentina.. Depois de a fumaça ter baixado, a gente descobre que o sexo nem era tão bom, que o beijo era morno, que o cidadão nem sequer falava direito.

Beijo flor!

Anônimo disse...

MONIQUINHA,

AH, SE TODOS FOSSEM ASSIM...
AMO TUA ALMA LIBERTA.
TEU DESPRENDIMENTO.
CASA COMIGO?

"Eu sei que a gente ia ser feliz juntinho
Pra todo dia dividir carinho
Tenho certeza de que daria certo
Eu e você, você e eu por perto

Eu só queria ter o nosso cantinho
Meu corpo junto ao seu mais um pouquinho
Tenho certeza de que daria certo
Nós dois sozinhos num lugar deserto

(...)

Eu sei que eu ia te fazer feliz
Dos pés até a ponta do nariz
Da beira da orelha ao fim do mundo
Sugando o sangue de cada segundo

Te dou um filho, te componho um hino
O que você quiser saber eu ensino
Te dou amor enquanto eu te amar
Prometo te deixar quando acabar"

música: pedido de casamento
autor: arnaldo antunes

Anônimo disse...

Q aperto hein?
Acho q um cara desses dá pra se despresar facinho... já tive uma dessas coisas na vida... uma garota que me diz nao gostar mais do namorado, q gosta de mim... e no final só falta eu ter q sair no braço com o cara... mas essas histórias sempre terminam bem, ou seja, vc se livra do problema da forma mais idiota possível, merecedora de um grande capítulo na história da First Life... ;)
:**********
Ótimo texto querida Môni! Me fez lembrar de algumas coisas... inclusive o quanto vc é divertida e especial! XD
hahahahahahaha
Ovinos e Beijos
pra ti Môni!
Au revoir...

Anônimo disse...

EEEEEEEEEE VALENTINA LINDA ARRASANDO OS CORAÇÕES DESSES HOMENS SENSÍVEIS E APOIXONADOS!!!!! VAI FUNDO AMIGA UHUUUUUUUUU!!!

Anônimo disse...

Puxa Valentina, você foi realmente surpreendente. Sobre a possibilidade dessa estória ser ou não verdadeira, não faz a menor diferença em minha modesta opinião. Disse uma vez em um de meus filmes (acho que Crimes e Pecados) " os artistas tem uma ética particular" ... Muitas pessoas acham que minhas estórias no cinema são a minha vida..... e se forem? o que importa é que elas, as histórias, sejam interessantes, que elas provoquem reações e tirem as pessoas do seu lugarzinho para dizerem: ei Mônica, sabe de uma coisa isso aconteceu comigo. E foi muito bom. Ou isso aconteceu comigo, e apesar de não ter sido nada daquilo, fui eu quem senti..... Viva a primeira vida.....
Parabéns.
Um beijo

W.Allen

Anônimo disse...

ai que medo dessa história ...


.
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você não foi pra aula terça ...

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ai me deu mais medo agora !

não leio mais esse blog !




;)

Anônimo disse...

Déia: imagina. coisas assim só acontecem em filmes.

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CCC: claro que vc conhece, você leu o texto antes de eu postar. hauhauahuhauahua. monstra.

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Sassá: nem fala. já pensou se fosse verdade? hauhauhauhaua.

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Karina: tou contigo e não abro. concordo. concordo. concordo. hehe.

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Pretê: com você eu converso depois. huahauhauhuahuahua.

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Jesuis: meu leitor mais fiel.... e amigo especial. às vezes precisamos ficar longe pra nos aproximarmos das pessoas, né?

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Sassá Xuxua: coisa louca essa vida né? aff! pode deixar que vou fundo simmmmmmmmmm. hauhauahuahuahu.

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W. Allen: viva seus filmes e as sensações das primeiras, segundas e terceiras vidas. graças a elas percebemos o mundo (real ou virtual ou paralelo). hauhauhau. obrigada pelo 'surpreendente'. adorei!!! ;)

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Annie Menina: pois então, não fui pra aula pq tava no aeroporto. hhauhauhauhauhauhahua. brincadeira. nos vemos quinta. beijos.

Anônimo disse...

Ultimamente tá difícil de ser o primeiro a comentar! :P
Mas eu me esforço pra ser o amigo mais legal!!! XD
hahahahahaha
:*************
Au revoir...
Animais com pelo de Lã e carícias feitas com a boca! ;D

Unknown disse...

Ta e aí monstra, que papo é esse de second life confusa e tal ...

Te liga lumbriga!

hahahaha... muito bom o texto fictício... credo, se fosse verdade, nem sei que conselho eu daria para uma amiga como essa da história fictícia ...

deus o livre!

huahauhauhauha...

congrats!
bjão