sexta-feira, 27 de julho de 2007

Do Esporte à Política



Definitivamente. Esporte não é a minha praia. Até gosto de competições. A questão é que, jogando, eu sou muito ruim mesmo. Talvez tenha algo a ver com um trauma de infância, um ginásio cheio de gente, um saque, uma bolada na testa e uma vergonha sem fim. Não sei. O fato é que eu nunca me saí muito bem em modalidade nenhuma. Fosse com vôlei, futsal, futebol, handebol, basquete ou coisas do gênero.

Bom. Mas isso nunca foi problema pra mim. Sempre convivi super bem com estas diferenças. Copa do Mundo começa e Copa do Mundo termina, e tudo bem. As Olimpíadas vêm e vão. Alguns atletas até se destacam, é verdade. Mas no final das contas, que diferença isso faz?

Com o Pan era pra ser mais ou menos a mesma coisa. Até me espantei quando, num dia em que eu estava meio convalescida, tentando espantar uma forte gripe, liguei a televisão e... era a abertura dos Jogos. Nossa. Nem sabia que era hoje, pensei. Aproveitei a oportunidade do destino – em um dia normal não estaria em casa naquele horário – para assistir tamanho espetáculo.

Agora. O que era aquele jacaré medonho, passeando feliz no meio de um monte de sacis coloridos? Não agüentei. Desliguei a tevê, me embrulhei em um cobertor e fui ler os textos de Ivan Lessa no site da BBC. Muito mais produtivo e interessante.

Não leio nada sobre esporte. Pulo as páginas desta editoria sem o menor constrangimento. Agora, o tal Pan insiste em aparecer. Qual foi minha surpresa quando, no sábado, nos cadernos de política, descobri o bafafá que aconteceu na abertura. Nosso (digo, deles) excelentíssimo Babalorixá da Banania foi vaiado por uma multidão de 90 mil pessoas, desde o ensaio geral até todas as vezes em que foi anunciado. Foram, ao todo, sete vaias. Não houve a menor dúvida de que o negócio era com ele mesmo. Um mico mundial. Isso sim é que é vergonha!

Claro que a petralhada está até agora balbuciando justificativas para o acontecido. Há quem diga que não foi bem assim... Afinal, o Maracanã vaia até minuto de silêncio, não é? Não. Não é. O Maracanã também aplaude. O prefeito César Maia foi aplaudido. A delegação cubana também.

É. Brasília manda e desmanda nos comerciais da Peugeot. Brasília expulsa do país jornalista americano que questiona os hábitos etílicos do presidente. Brasília ameniza escândalos. Brasília abafa as negociações da família Lula da Silva. Agora... a voz do Maracanã, Brasília não pôde conter .

Ah se arrependimento matasse... Pois é. Mortinha da Silva. Quer dizer... da Silva, não. Não quero ter nenhum tipo de vínculo lulístico, nem na hora da morte. Mas se arrependimento matasse...

Porque foi que eu desliguei a televisão? Apesar de que, com os cortes e com maquiagem que a Rede Globo fez – e pelo que se soube as demais emissoras e veículos que noticiaram o evento também –, eu ouviria, e bem baixinho, somente alguns dos UUUUUU.

E, pra ser bem sincera, acho que ouvir só era pouco. Eu queria era esta lá. Ah se eu fosse uma pessoa mais esportiva... Provavelmente seria uma das 90 mil pessoas. E nem venham me dizer que as vaias foram compradas. Que o prefeito César Maia colocou ônibus para levar os agitadores. Isso não daria certo. É só raciocinar bem. Até porque, quanta gente seria preciso para abafar os aplausos dos mais de sete mil funcionários que ganharam ingressos da Petrobrás e da Caixa Econômica Federal. Ou será que esta galerinha entrou no clima da vaia?

O Lulinha Paz e Amor (lembram do slogan?), orientado por seus assessores, acabou se recusando a fazer a abertura oficial do evento. Acho pouco. Ele podia se recusar oficialmente ao cargo, fazer suas malinhas e picar a mula, em minha modesta opinião. Em vez disso, ele posa de vitima. Coitadinho. Foi pra uma festa onde não era bem-vindo, lamentou ele.

E bem-vindo ele parece não estar sendo mesmo. Ele não é bem-vindo no Rio (pausa para aplauso aos cariocas). Por conta do acidente no aeroporto de Congonhas, teve que cancelar os compromissos em São Paulo. Aparecer em território gaúcho, então, nem pensar. Lá ele seria alvo de coisas bem piores que vaias.

Bom seria se ele fosse para o sertão nordestino, passar o resto dos dias comendo calango frito, e sem direito ao auxílio do Bolsa Família. Nada de vinhos caros, lençóis de linho egípcio, talheres de prata, cigarrilhas holandesas ou charutos cubanos. Não teria mais nem mesmo aquela tradicional pinguinha, a que é tão habituado.

No final das contas, acho que só faltou uma vaia para o pessoal da organização do evento. Dos R$ 40 milhões previstos para o Pan, foram gastos R$ 3,7 bilhões. Uma diferença mínima, convenhamos. Equívocos pequenos como estes já eram previstos. Afinal, no país onde o presidente não sabe muito bem se a extensão do território nacional é de 8 milhões de metros, 8 milhões ou 800 mil quilômetros, não é de se estranhar mais nada. Além disso, foi Lula mesmo quem disse que: “Nestepaiz tudo cresce. A economia cresce. Só o que cai é o salário. Digo, a inflação.”, em outubro de 2006, ao vivo, no debate da Rede Globo, transmitido para todo o país.

Mais vaias ao Apedeuta. Palmas aos cariocas e suas camisetas “Eu vaiei Lula no Pan” e a Freud, com suas explicações sobre a mente humana e o ato falho.

O Pan das Sete Vaias
Por Reinaldo Azevedo – colunista da Revista Veja

Lula foi vaiado seis vezes na festa do Pan, como sabem. Na verdade, sete. Há uma vaia que não está sendo contabilizada aí. Alguns internautas ainda não viram ou não estão com a coisa devidamente organizada. Então vamos lá:
1ª vaia – Se você clicar aqui, tem acesso à primeira vaia da noite, quando é anunciada sua presença no Maracanã. Ouvem-se vozes dizendo: "Toma!". Galvão Bueno ainda tenta achar uma explicação para a manifestação.
2ª, 3ª e 4ª vaias – Acontecem quando há a saudação oficial, com a citação do nome do presidente: é vaiado em três idiomas... Clicando aqui, você ouve a saudação em português. Se a gente apura bem os ouvidos, percebe um coro de vozes gritando, de forma ritmada, um dissílabo terminado em “ão” muito usado em estádios de futebol.
5ª vaia – A quinta vaia acontece quando Carlos Arthur Nuzman cita o nome de Lula. Talvez tenha sido a mais forte. Até agora, não achei no YouTube.
6ª vaia – Acontece quando o mexicano Mario Vázquez Raña, presidente da Organização Desportiva Pan-Americana, chama Lula para abrir os jogos — coisa que o brasileiro acaba não fazendo. Veja o vídeo aqui. Clicando aqui, você vê o tratamento discreto que o Jornal Nacional dispensou ao episódio.
7ª vaia – Ela aconteceu, vejam só, já no ensaio geral, como se vê aqui. Na ordem cronológica, foi a primeira.


Aliane Kanso

8 comentários:

Anônimo disse...

Cala-se o Jornal Nacional (o nome justifica a sutileza e reserva de comentários...)... .... .... porém o Meninas de Papel NÃO!!!!

Fala Ali!!!! aaaaa..... se o Lessa te ouvisse.... vamos providenciar isso!!!

Beijos
An

Anônimo disse...

Eeeeeeeeeeeeeeee amiguinha Ali! Sempre mandando muito bem!Eu tb queria ter estar lá na hora da vaia, e olha que foram 7 oportunidades... Beijos querida!

Unknown disse...

Parabéns pelo texto Aliane. Muito Bom!
Camila

Anônimo disse...

Olá Aliane,

Desculpe discordar de você e de todos mas acho que tenho esse direito...

O fato é que como um democrata, gostaria de pontuar coisas sobre este tema tão polêmico como as vaias ao Presidente.

Em primeiro lugar vamos falar dos custos do PAN tão criticado pela Miss Sunday em seu texto de hoje, a adorável Sabrina. Este custo em sua maioria é de responsabilidade da cidade do Rio de Janeiro. Então se houve um pequeno engano nos números em relação ao previsto e ao que de fato foi gasto, as vaias deviam ser direcionadas a outra pessoa. A propósito o Lula inclusive, por ser Presidente e não salvador da Pátria, liberou alguns recursos de última hora, senão, talvez, as vaias seriam muito maiores ao Brasil, mas vindas de toda a comunidade internacional e não das pessoas que estavam no Maraca.

Segundo ponto, dar crédito à Veja e ao Jornalista Reinaldo Azevedo, é politizar ao contrário a discussão. A Veja por ser uma revista claramente ideológica da direita brasileira e o jornalista por ser praticamente um filiado do PSDB. É quase como pedir para um corinthiano falar bem de um palmeirense como eu.

Terceiro ponto: será que foram 90.000 pessoas mesmo que vaiaram, ou foi a imprensa que dessa vez se enganou nas contas? Afinal porque uma cidade que deu quase 70% dos seus votos ao lula, teria mudado maciçamente de opinião? Ou será que essa linda festa que permite ao povo brasileiro por inteiro assistir democraticamente pela televisão, não é no Maracanã representada apenas pelas classes melhor favorecidas, um pouco incomodadas com essa gestão mais preocupada com quem está por baixo?

Por fim, acho que por um impulso involuntário e por uma ira não contida creio que o seu desejo pelo destino do Presidente aos grotões do Nordeste com direito ao calango e tudo, não deve ser verdadeira. Você é uma pessoa muito intelegente e doce, e não combinaria com o truculento movimento " o Sul é o meu País".

Viva o Brasil e agradeço por me deixar expressar meu ponto de vista.

Um beijo

W.Allen (um pouco mais polêmico hoje)

Anônimo disse...

W. Allen,

Sua opinião é sempre bem-vinda.
Mto embora, apesar da excelente argumentação, ainda há pontos em que eu poderia discordar...

Mas tudo bem. Não quero entrar no mérito da questão. Este espaço é seu!

Em outra oportunidade, quem sabe, retomamos o assunto... heheheh.

Bjus,
Aliane.

Anônimo disse...

PS.

Obrigada pelo "pessoa inteligente e doce".

;)

Anônimo disse...

Olá Miss,
Agradeço a sua resposta. Na realidade fiquei um pouco preocupado (entenda, eu também tenho sentimentos e compaixão)de ter carregado um pouco no meu contraponto. Não me interprete mal.... é só um ponto de vista com o qual você pode e deve discordar se quiser. Sem ressentimentos, ok? Às vezes, acredito eu, precisamos nos chacoalhar para que a gente perceba que está vivo.
Um beijo

W.Allen (bem mais calmo)

Anônimo disse...

Não se preocupe.
Sem ressentimentos!...
Fique frio... não te interpreto mal. Bem ao contrário! ;)

Gosto mto da sua opinião.
Mesmo que, quase sempre, ela divirja da minha... hehehehe

Vc é uma figurinha! ;)

Bjus,
Aliane.