quinta-feira, 28 de junho de 2007

A BARRIGA DE SOFIA


Sofia nunca se preocupou se tinha barriga ou não. Isso, só até ver um anúncio em um baita outdoor, de mais uma destas clínicas de estética, espalhadas pela cidade. Ah, e em letras garrafais: BARRIGA, segundo o dicionário significa: “QUALQUER PROTUBERÂNCIA, CURVA SALIENTE OU BOJO QUE LEMBRE O CONTORNO EXTERNO DO ABDOME”. Venha perder a sua com a gente. Na hora, Sofia teve certeza de que aquilo foi escrito (e de propósito) exclusivamente para ela. Naquele momento, ela se viu com o dobro do seu peso. Detalhe: ela pesava 53kg, nada mal para quem tinha 1,60 m de altura, não?! Este outdoor foi um divisor de águas na vida de Sofia. Antes da barriga e depois dela. Após este dia, a moça, que antes nunca tinha pisado em uma academia, correu para uma, e tornou-se fera no spinning e nas dietas da moda. Aí começava a neura de Sofia.
Este foi o primeiro passo, o segundo foi correr para a tal clínica de estética, apesar do anúncio horroroso espalhado pela cidade.

−Curva saliente ou bojo que lembre o contorno externo do abdome, pensava alto Sofia enquanto se dirigia para a clínica. Chegando lá...
−Bom dia, posso ajudá-la?
− Claro, meu nome é Sofia Guerra, marquei hora com a Rose, a esteticista.
− Ah, sim, ela já vai te atender.
−Sofia, eu sou a Rose, vamos entrar? Pronta para perder a barriguinha?
−Você quer dizer pança né? Hoje ela é toda sua.Faça o que quiser,Rose.
Sofia deitou-se na cama sem medo da tortura que estava para começar. Iniciou com uma massagem estética, depois com a modeladora, logo depois com a drenagem linfática, passou para a eletro-estimulação e finalmente para o ultra-som (sim, até em estética existe ultra-som).Até que...
− Chegaaaaaa!!!! Não agüento mais,Rose.Eu quero ficar sem barriga, mas também quero conseguir chegar até meu carro e dirigir até em casa. E pela dor que estou sentindo, acho que isso não será possível.
−Mas foi você que pediu,Sofia.
− Eu pedi para ficar sem banha, Rose,não para ser socada como se faz com uma massa de pão. Ainda quero sentir que tenho órgãos dentro de mim. E isso eu garanto que por hora não consigo. To indo. Quem sabe daqui uns anos, depois de uns quatro filhos eu volte. Tchau. E saiu batendo a porta.
Mesmo dolorida,Sofia resolveu fazer a “lição de casa” que Rose mandou. Usar depois do banho (engraçado estas coisas terem hora), um gel redutor, que na hora esquenta muito e deixa a pele vermelha(ta bom, esta narradora que vos fala já fez a experiência) e depois você precisa colocar muita, mas muita roupa porque é como se tivesse entrado numa câmara frigorífica. Fez uma única vez e jogou fora o pote caríssimo do gel.
A obsessão de Sofia Guerra em perder a barriga já estava ultrapassando os limites, pois até na hora de transar, ela preferia, vamos dizer, as posições que lhe favorecessem, ou melhor, que não deixassem tão a mostra aquelas dobrinhas indesejáveis (que,vamos falar a verdade,toda mulher tem. Ah desculpem, a Kate Moss não, aliás, está cada vez mais magra, a bandida!).
Até no carro, tanto faz se dirigindo ou como passageira, a primeira coisa que fazia era disfarçar a barriga com a blusa, e se a companhia fosse um gato lindo, tipo menino do Rio, moreno, alto, bonito e sensual, então, ela encolhia a barriga quase sem poder respirar, mas o importante era que ele não percebesse que ali reinava uma certa protuberância.
E ai se um gato desse encostasse na barriga dela na hora de cumprimentá-la na balada. Ela virava bicho. Um dia isso aconteceu.
−Sofia, é você? Quanto tempo!Pelo menos uns cinco anos. Como você está?
− Estaria melhor, Ricardo, se na hora de você me cumprimentar não tivesse encostado na minha barriga.
O rapaz ficou perplexo com tanta sinceridade.
−Nossa, Sofia, desculpa. Não sabia que você estava grávida.Está se sentindo bem?
Pronto, foi o que bastou para ela surtar. Pegou a caipira que estava bebendo, jogou na cara de Ricardo e passou o resto da noite sem olhar para ele.
Depois desta mal sucedida balada e ainda com dores, por conta de tanto ter a barriga amassada na clínica de estética, Sofia resolveu mudar de estratégia.
O terceiro passo foi começar a tomar produtos fitoterápicos, até cápsula de colágeno e de berinjela ela tomou. Ah, sem esquecer do chá verde. Fuçando na Internet, Sofia descobriu que ele acelera o metabolismo e assim, ajuda a queimar a gordura corporal.
−É o fim da minha pança.
Nestas suas pesquisas, ela descobriu que na Suíça, foi realizado um estudo com três grupos de pessoas que seguiram a mesma dieta. O resultado: o grupo que tomou chá verde teve aumento de 4% na velocidade de combustão das calorias no organismo e de 5% na queima de calorias em relação aos outros dois grupos pesquisados.Sofia tinha descoberto seu pote de ouro, a sua luz no fim do túnel.
No primeiro dia, ela começou com uma cápsula de colágeno e uma de berinjela e no máximo uma jarra de chá verde, mas a cada dia que passava ela ia aumentando as doses sem auxilio algum, tomava sem parar, até que no casamento de sua amiga de infância Roberta, em que era madrinha, teve uma dor de barriga que quase não a deixou entrar na Igreja.
Do dia em que viu o anúncio até o dia do casamento da amiga, já havia passado um mês e com tudo que tinha feito, pelo menos um pouquinho da barriga, digamos que uns 3,5kg já deveriam ter ido embora. Mas mesmo com toda esta parafernália, a pancinha continuava ali, não aumentava, mas também não diminuía.
Naquela mesma semana, por uma coincidência, Sofia encontrou na bolsa, uns exames solicitados há muito tempo por sua médica ginecologista, e resolveu levar os resultados para ela. Aproveitou e contou toda a sua saga atrás de uma barriga chapada.
−Então isso é tudo Dra Lucia. Mas além da minha barriga não ter sumido, ando sentindo enjôos e um pouco de tontura, mas acho que isso é de tanta porcaria que tomei não?
Sofia falava enquanto a médica observava seus exames.
− Sofia,não,infelizmente, ou felizmente os produtos fitoterápicos e o chá verde que você tomou em excesso não são responsáveis pela sua barriga não ter sumido. O responsável é outro. Você está grávida.
− O queeeeee??Não pode, eu sempre me cuido. O que vai ser da minha vida?! Nem namorado eu tenho, só um rolinho. Este filho só pode ser dele.
−Então querida, acho que você deve procurar este seu rolinho e decidir com ele qual melhor atitude a tomar. Só posso lhe dizer que sou contra o aborto no seu caso.
Sofia bateu a porta do consultório sem se despedir da médica, sem saber para onde ir e o que fazer, decepcionada, ainda mais agora que a barriga só faria crescer e ela que lutou tanto para perdê-la.
Pois é, como é a vida não? O amigo dela, aquele gato, o Ricardo que ela encontrou e tratou mal na balada, realmente estava certo. Se Sofia Guerra soubesse que iria engravidar, nunca teria dado atenção para aquele outdoor.
Tsc, tsc, estas nossas neuroses, ainda vão nos levar além, além da loucura, loucura, loucura. Hoje a protuberância, curva saliente ou bojo que lembre o contorno externo do abdome, é um lindo bebê.

Camila Age

3 comentários:

Unknown disse...

Pobre criança... Fico imaginando como vai ser quando a mãe for amamentá-lo: a louca deve fazer isso cheia de medo de os peitos caírem e vai culpar o moleque por não ser doente como ela e não querer fazer dieta já nos primeiros meses de vida.

Anônimo disse...

Meu Deus que neura... Mas a mídia faz isso conosco mesmo!

Ótimo amigalhes!

Beijosss


Carlota etc e tal

Unknown disse...

Muiiito bom!!!!
toda mulher sofre com sua barriguinha mesmo, mas não vê a hora de vê-la aumentando durante a gravidez!!!! Não adianta, ninguém as entende...nem elas mesmas!!!!