sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Minha despedida


Engraçado. O tempo é tão relativo. 24 horas parece ser um montão quanto temos que esperar por algo. Cada minuto é quase uma eternidade quando estamos fazendo alguma coisa que não gostamos. Da mesma forma, freqüentemente, pensamos que uma vida inteira é muito tempo. Na verdade, se pensarmos bem, não é. Normalmente achamos que temos muito pela frente, e não queremos ver que o caminho, às vezes, nos pega de surpresa. No final das contas, a contagem sempre foi regressiva. Mas, se fosse possível saber o prazo final, eu faria assim:

Eu acordaria bem cedinho, antes mesmo de o dia amanhecer. Passaria na casa de cada uma das pessoas que são importantes para mim, minha família e meus amigos. Depois, todos juntos, em uma grande caravana, pegaríamos a estrada. Guiando minha moto, eu iria à frente. Observaria com muita atenção cada detalhe do caminho e faria questão de curtir as coisas simples como o frio, a chuva, o vento e o cenário.

O destino seria uma praia deserta, mas não muito longe. Chegaríamos quando ainda é escuro. Faríamos uma fogueira e, sentados na areia, em silêncio, esperaríamos o nascer do sol. Tudo seria registrado na memória e gravado no coração. Contemplaríamos cada raio de luz que toca o horizonte e o brilho dourado que ele deixa no rosto de cada pessoa.

Tomaríamos o café da manhã numa grande mesa, composta por vários lugares. Entre as frutas, pães e sucos, saborearíamos o doce sorriso um dos outros. Depois, faríamos uma longa caminhada a beira-mar. De mãos dadas, passo a passo, sentiríamos o suave toque da água e o frescor da brisa marítima.

À tarde, de baixo da sombra de uma árvore, faríamos um grande piquenique. Lembramos de todos os bons momentos que já vivemos juntos. Todos os natais, festas de ano-novo, aniversários, férias e dos mais especiais dias comuns. Todos os momentos de superação, desafios e conquistas. Riríamos muito. Provavelmente, choraríamos também. Este dia seria, sem sombra de dúvida, recheado de muitos beijos e abraços. Aproveitaria a oportunidade para, incansavelmente, dizer a todas as pessoas o quanto as amo e pedir que me perdoem por todos os meus incessantes erros.

A confraternização só seria interrompida caso Deus nos presenteasse com uma refrescante chuva de verão. Daí, todos correríamos para a linda cachoeira, que fica um pouco escondida, mas que não é difícil de achar. Lá tomaríamos o melhor banho de nossas vidas. Só sairíamos de lá, quando estivesse quase anoitecendo. E, mais uma vez, em silêncio, nos despediríamos do sol e de toda a beleza de nosso redor.

Faria alguns momentos de reflexão. Ficaria, por alguns instantes, sozinha. Nesta hora, escreveria algumas cartas. Em uma delas, dirigida a todos, pediria para que, no próximo ano, no mesmo lugar e na mesma data, esta mesma grande família se reunisse novamente e juntos, celebrassem a vida. Deixaria registrado também, individualmente, como foi bom ter vivido com cada uma das pessoas que fizeram parte da minha vida. Faria a entrega de todos os escritos. Daria um grande abraço em cada um e, depois de um dia tão emocionantemente feliz, iria dormir...

Aliane Kanso.



2 comentários:

Anônimo disse...

Olá Miss Ali! Miss Friday!

Talvez a mais politizada de todas as misses e aquela com a qual tive mais contrapontos devido ao seu (e ao meu) gosto pela discussão política e de visão de mundo por que não dizer.
Talvez aquela que mais irritei também... peço desculpas se me excedi algumas vezes. Nunca foi essa a intenção.
W.Allen escrevendo pela última vez, celebrando a minha despedida com cada uma de vocês e dedicando um poema ou canção no final.
Então Ali, além de politizada percebi em você, nessas poucas semanas em que convivemos, um clima meio hostil com o universo masculino. Você deve ter suas razões mas tente pegar um pouco leve... Nós somos muitas vezes difíceis (vocês também), mas há solução. E quando há solução e se combina tudo, não existe prazer maior, não é verdade? Sei lá. Desconsidere, se quiser, o comentário, ou pense nele. Talvez possa lhe ser útil.
Comentando um pouco o seu texto de hoje dou um sugestão para você e para as outras meninas de papel que seguiram o caminho das realizações tardias. Agora que vcs refletiram, mesmo que de maneira breve, sobre como tornar a vida mais prazeirosa, ponham em prática a partir de agora! "Tudo vale a pena, se a alma não é pequena" diria o poeta. Ele está certo.

Para você eu dedico um linda música de um compositor maravilhoso, apesar de ser homem (just kidding, ok?) Ele chama-se Vitor Ramil e a letra chama-se Estrela, Estrela

Beijos e até um dia.

"Estrela, estrela
como ser assim
tão só, tão só
e nunca sofrer
Brilhar, brilhar
Quase sem querer
Deixar, deixar
Ser o que se é
No corpo nu
Da constelação
Estás, estás
Sobre uma das mãos
E vais, e vens
Como um lampião
Ao vento frio
De um lugar qualquer
É bom saber
Que é parte de mim
Assim como és
Parte do que sou
Melhor, melhor
é poder gozar
Da paz, da paz
Que trazes aqui
Eu canto, eu canto
Por poder te ver]
No céu, no céu
Como um balão
Eu canto e sei
Que também me vês
Aqui, aqui
Com essa canção."

Desejo um lindo caminho para você e que a vida lhe reserve sempre belas surpresas. Elas são mágicas.

Se quiser recorrer ao W. em algum momento, corra e olhe o CÉU. Eu estarei lá.

W.Allen

Anônimo disse...

bom é quando vivemos todos os nossos dias com se estaivásemos constantemente inebriados pelos sorrisos, cachoeiras, cartas... Quem dera eu voce e todos pudéssemos viver nesta benção de não ter de escrever nada no último dia, que todo dia seja o último. Um dia, talvez no úlimo, eu chegue lá.