domingo, 1 de julho de 2007
Por um rubor mais convincente
Quanto mais passava o pano úmido, mais o tom vermelho se dissipava para o rosa, espalhando-se pelo bege. Mas Joelmir não desistia, permanecia no esfrega, alastrando o degradée e fazendo tanto atrito que esquentava a gola do blazer. Até que sua tenacidade começou a desgastar o tecido. Joelmir bufou, segurou-se para não gritar um palavrão em sua sala cercada de finas paredes de eucatex. Até que Murilo entrou evitando olhar Joelmir de frente.
- Não vai na reunião?
- Que reunião, Murilo?! Você acha que eu tô com cabeça pra reunião?! Foi você, não foi, seu babaca?!
- Eu o que?
- Meu, você nem tá conseguindo segurar o riso.
Murilo cai numa gargalhada reveladora.
- Tá bom, eu tô envolvido, mas não fui eu, não. A gente pediu pra Milene.
- Que Milene?
- A do bocão.
- Da convenção no Rio?
- Essa mesma.
- Então eu tive sorte que ela não engoliu meu blazer. Ei, mas você falou “a gente”. A gente quem?
- Ah, não sou dedão.
- Ué, já entregou a Milene mesmo.
- Pô, Joelmir, mas você quer que eu entregue meu brother?!...
- Tá, manda esse porra desse Eliseu subir aqui pra tirar essa mancha.
- Pára com isso, Joelmir. Manda na tintureira, eu pago.
- Se eu chegar em casa sem o blazer, a Cinara vai desconfiar.
- Desconfiar do que, se não aconteceu nada?
- Murilo, se liga! Você sabe que ela é uma ciumenta obsessiva. Vai exigir que eu dê o nome da tinturaria pra investigar pessoalmente. Só o fato de eu chegar em casa sem o blazer já será motivo pra ela me acusar.
- Então fala a verdade: que a gente te sacaneou.
- Ah, boa! Murilo, acorda, ela vai dizer que “é, vocês são todos uns borra-botas, ficam se protegendo uns aos outros, nhé-nhé-nhé”.
- Tá, diz que esqueceu o blazer no escritório, daí eu levo pra lavar...
- Murilo... Murilo... é igual ao caso da tinturaria... a Cinara daí vai querer vir pro escritório buscar essa porra, bosta, cu, caralho, merda de blazer. Será que você tá se ligando no que vocês me meteram?
- Mas que josta, Joelmir. Se ela desconfia tanto assim da tua conduta, por que se casou contigo?
- Isso não é hora de discutir a relação.
Nisso, Eliseu entra na sala.
- Oi, Murilo, tão te esperando pra reunião.
- Eliseu, o Joelmir já descobriu que foi você. Não sei como. O cara é um gênio.
- Como assim “que foi você”?! Foi tudo idéia sua!
- Ei, vocês dois! Eu quero uma solução, só isso.
- Simples, eu levo na tinturaria...
- Eliseu, a gente já discutiu isso. Todas as alternativas que envolvam confessar a verdade ou lavar o maldito blazer estão fora.
- Ué, qual a solução então?
- É isso que eu quero saber, seus jumentos! A Cinara é neurótica e vocês me foderam.
- Calma, Joelmir, o Eliseu vai ter uma idéia, né, Eliseu?
- Hmmm...
- Aliás, Joelmir, quem manda você usar blazer bege. Se fosse um chumbo ou azul marinho não tinha dado essa merda.
- Animal, quem você acha que me manda vestir só camisa branca e blazer claro? A Cinara! Pra ficar mais fácil de achar mancha de batom.
- Mas então ela é burra, porque daí é só você pedir pra garota não usar batom.
- E não usar perfume, né, porque senão a Cinara fareja.
- Ela te cheira quando você chega em casa?
- Como um perdigueiro. Os caras da alfândega deviam contratar essa devassa.
- Então, vê se não deixa mais esse blazer dando sopa aí pendurado.
- Claro, vou andar com ele por aí no calor. Só falta você me arrumar um cachecol.
- Bege, claro.
- Joelmir, Murilo, esperem aí que eu já volto, tive a tal idéia.
Eliseu sai da sala e Joelmir encara Murilo raivoso.
- Esse idiota tendo uma idéia, haha. Mais fácil a Cínara me deixar chegar em casa atrasado.
- Já sei.
- Diga... Einstein.
- Você diz que foi assaltado e roubaram seu blazer.
- Ela vai dar queixa na Furtos e Roubos, eu vou me enrolar todo pra preencher o BO, daí fodeu.
- Pô, mas mente cara.
- Murilo, ela tem um livro intitulado “Psicologia da Mentira Masculina – Como pegá-lo de calça curta”. Sabe lá o que é isso?!
- Caracas!
- Já sei! Cara, você vai sair agora e me comprar um blazer idêntico a este aqui.
- Tá louco. Quanto custa essa merda?
- Mais barato do que o colete de coluna cervical que você vai ter de usar se não solucionar meu problema.
- Tá bom, tá bom... vou pedir um vale.
- Ah, e não esquece de desfiar essa costurinha aqui no punho, senão ela vai perceber.
- Porra, Eliseu!
- Putz, não dá. Olha aqui no forro. Ela mandou bordar minhas iniciais.
- Puta que pariu. Tem certeza que ela não botou um satélite te vigiando também?
- Não sei, cara. Falou em me implantar um chip.
- O que você tá procurando embaixo da mesa, Eliseu?
- Satélite, acho difícil. Mas microfone escondido não dá pra descartar.
- Cara, que se foda. Deixa ela descobrir. Vai ser uma benção porque daí você já aproveita e pede divórcio dessa louca.
- Não posso, Murilo. Ela tem um primo distante, um tal de Simeão, que é matador de aluguel. Só vi o cara por foto. É uma montanha de músculo, Murilo, maior que essa porta aí atrás.
- Ah, esse cara nem deve existir, ela inventou isso pra te assustar.
- Não vou facilitar com essa maluca.
- Cara, derrama café, daí mistura tudo.
- Murilo! Como que você quer que ela acredite que eu derramei café na gola do blazer, bem do lado do pescoço?! Só se eu bebesse pelo ouvido.
- Ah, tipo você foi se espreguiçar e tal.
- Faça-me o favor, Murilo. Ela vai sacar tudo. Vai dizer que eu camuflei a mancha de batom com café. Que alguma vadia borrou a gola em algum motel da Rodovia dos Minérios.
- Os motéis lá tão dando almoço executivo de brinde.
- Todo motel dá isso, sua anta.
- Sério?! Pensei que só os da Rodovia do Minérios é que ofere...
- Murilo! Volta pro nosso assunto, porra!
- OK, OK. Tive uma idéia.
- Qual?
- Não é nada pessoal, Joelmir, mas por que você não se mata?
Nisso, Eliseu volta à sala segurando o telefone sem fio em uma das mãos.
- Tudo certo. Os paramédicos já estão chegando.
- Que paramédicos?! Alguém se machucou?
- Não, Joelmir. É pra você.
- Como é que é?!
- Minha nossa, o tal do Simeão tá vindo!
- Vocês querem deixar eu explicar?! Olha, eu acabei de falar com o meu cunhado, que é socorrista. Bom, na verdade é motorista, mas tá valendo do mesmo jeito porque ele...
- Fala, caralho!
- Tá bom. Ele dirige uma ambulância dessas de socorro 24 horas. E eu falei pra ele o teu drama, Joelmir, daí disse a minha idéia: a gente finge que você caiu e bateu a cabeça. Ele até conseguiu uma bolsa de sangue pra jogar no seu blazer.
- Tem de ser tipo A positivo.
- Que é isso, Joelmir?! Você acha que ela iria desconfiar e fazer uma perícia numa situação dessas?!?!
- Vocês não conhecem a Cinara...
Eliseu volta a falar ao telefone.
- Jojoba, tem sangue tipo A?... Positivo... Não, retardado, eu quis dizer positivo o sangue, não no sentido de “positivo, câmbio”... Tá... OK...
- E aí?
- Ele disse que eles arranjam, Joelmir.
- Beleza!
- Já tem um médico sabendo da história. Vão deixar você enfaixado na cabeça, daí é só se fazer de desacordado. Até pega uns dias de dispensa. Ô, vidão...
- Parece um bom plano. Ei, mas eu não vou saber fingir que caí.
- Faz de conta que caiu aqui mesmo, tropeçou no pé da mesa. Daí a gente já sai da sala com você arrastado.
- Tá, mas e como que eu vou sair sangrando daqui!?
- A gente faz um cortezinho em você.
- O que?!?!
- Calma, Joelmir. Cortezinho de nada. Uma incisãozinha do lado do pescoço.
- Caaaaaaaaaaara...
- Fica frio. Até trouxe o estilete.
- Tem que desinfetar esse troço.
- Joelmir, não é hora pra esses luxos.
- Ai, ai, ai, não sei não.
- Jojoba, venha rápido que eu vou preparar o terreno.
Eliseu desliga o telefone. Certifica-se de que a porta está fechada, tira o estilete do bolso e sobe a lâmina.
- Joelmir, não vou nem sujar a lâmina.
Pouco tempo depois, Cinara fala ao celular em seu carro.
- Cortou a jugular?! E como alguém pode cortar a jugular tropeçando no pé da mesa?!... Hmmm... Estranho, hein, Ângela. E perdeu muito sangue?... Ah, amiga, muita coincidência isso de ter uma bolsa de sangue do tipo dele na ambulância, hein!... Quem acudiu o Joelmir?... Aqueles dois idiotas, sei... Saíram da sala desesperados?... Como assim?... O Joelmir tentou esganar o Eliseu?!... Ué, mas por que se foi o Eliseu quem socorreu ele?!... Ui, que cena de horror... Correu sangrando atrás do Eliseu até cair desacordado?!?!... Não tô entendendo nada, só sei de uma coisa, Ângela: tem mulher no meio. E você, como minha informante contratada, tem de descobrir quem é. Vou mandar grampear os telefones de novo. Tenho certeza que é aquela tal de Milene... Ééééé, aquela do bocão. Você mesma me disse que ela chamou atenção naquele congresso que teve no Rio. Fica atenta, Ângela. Alguma pista?... Hãããnnn, ele deixou o blazer. Então, vai lá e vê se não tem nada nos bolsos, bilhete, fio de cabelo... Melhor: manda já o blazer lá pra casa pelo motoboy... Ei, você, como secretária da diretoria, bem que pode pedir uma licença e dizer que vai pro hospital ajudar o Joelmir... Alô... Alô, Ângela... Caiu... Ô, merda, vou ligar lá de casa. O celular não pega direito aqui na Rodovia dos Minérios, Simeão.
Meninas de Carne
Você é ou conhece a garota da foto? Então, manifeste-se.
Se não conhece a figura, tente identificá-la no meu Orkut: http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=13286287392859360604.
A primeira pessoa que responder corretamente seu nome e sobrenome nos comentários, deixando ali algum canal para contato, ganhará um DVD do filme “Dermografia”, que tem minha concepção, roteirização e assistência de direção (estréia em breve no cinema).
Texto e foto: Mario Lopes
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24 comentários:
Mario???
A-pa-vo-rouuu!!!
Depois de lêr esse conto não poso mais deixar de desejar lêr todos os seus contos e o que mais você escrever...
Quero publicar...não posso tbém permitir que os leitores do Farol fiquem ser o prazer de lêr seus contos ma-ra-vi-lho-sos!!!
A garota é?
Janie Mansfield Superstar
Acertei??
Quero o DVD
Beijos querido Mario!!!
Mario???
A-pa-vo-rouuu!!!
Depois de ler esse conto não posso mais deixar de desejar ler todos os seus contos e o que mais você escrever...
Quero publicar...não posso também permitir que os leitores do Farol fiquem sem o prazer de ler seus contos ma-ra-vi-lho-sos!!!
A garota é?
Janie Mansfield Superstar
Acertei??
Quero o DVD
Beijos querido Mario
olha, depois da cinara, eu percebi que sou uma mulher normal.
muito bom, como sempreeeeeeeeee!!!!
beijocas.
Marião,
Muito legal.... senti uma certa inspiração (agregada com sua notória criatividade) naquele que fez Tiros na Brodway mesclado com L.Fernando Veríssimo.
Abraços e vida longa aos seus contos.
Rodolfo, o anônimo
Como é bom esperar o domingo...dia de ler e reler Mario Lopes...
Laura
Lidinha, muito obrigado pelas palavras. Ficarei honrado em escrever para o Farol, é só dar o tema. Pena vc ter errado: não é Janie Mansfield Superstar. Continue tentando vendo minha página no Orkut. Beijo.
Está praticamente IMPOSSÍVEL descobrir a garota desta foto, e a do domingo passado também, rs :-)
Dá uma dica aí, vai...
Valeu, Mopiziha. E vc não é ciumenta, é neurótica. hahaha (e quem não é? rs) Beijão.
Caro anônimo Rodolfo (hehehe), putz, vou te cofessar q não sei a quem vc se refere na questão do "Tiros na Broadway". Sobre o LFV, cara, vou t revelar q fiquei bastante comovido e lisongeado, pq é uma das minhas maiores referências, um ídolo, que considero praticamente inalcansável de tão genial. Portanto, obrigado mesmo. Só essa já fez valer a semana. Ou o mês, o ano. Abração.
Ô, Laura. Se vc fica ansiosa por esperar o domingo, saiba q eu fico ansioso por esperar suas peças geniais, com sua presença de palco absolutamente inigualável. Beijo e obrigado, Mulher Invisível. ;-)
Caro anônimo curioso para saber quem são as garotas das fotos (hehe). Nada é IMPOSSÍVEL. Muito menos identificar quem são as tais garotas. OK, concordo que não é fácil. Mas c vc for no meu orkut e compará-la com as minhas amigas, vai descobrir quem são. Uma pista? Bom, veja q em ambas as fotos há elementos indicativos de localidade. Opa, já falei o suficiente (eu acho), agora é investigar. Abraço c vc for homem. Beijo c for mulher. Té +
Ainda assim está difícil. Você tem amigas demais, rs :-)
hehe ;-)
A garota do bocão é Cá Roth.
Errou, Macoezinha. E vc sabe o porque, não sabe?
Que texto longo Brucutu...
Achei que eram as mulheres que escreviam e vc só comentava!
O que acontece?
Mudou de idéia?
De fato, anônimo(a), tenho um grave problema de concisão. Provavelmente é reação inconsciente ao exercício de conter as palavras nos trabalhos publicitários (textos de no máximo cinco linhas, filmes de no máximo 30 segundos): na hora que rola liberdade, pow, tento usufruir dela em plenitude. Mas a proposta nunca foi a de ser um comentarista (quem te disse isso?!), e sim uma visão masculina, conforme explica nosso texto de apresentação (experimenta dar uma lida no alto do blog). Agora, é claro, são as Meninas deste blog que mandam. Se elas se manifestarem pedindo q eu me restrinja a comentar ou mesmo a me afastar do blog, na boa. O nome é Meninas de Papel, sou um mero coadjuvante. Isso aqui é uma tribuna livre. Aliás, até você pode se inscrever para entrar no meu lugar. Vai curtir. É um exercício de personalidade e vai ser especialmente útil para você... anônimo. :-)
Em tempo, se achar o texto muito longo, tenho um conselho para você: não leia. ;-)
Mariooo
Eu me considerei ciumenta uma vez sabe... hahahahaha
Isso sim é neura!!!!
beijos
carlota etc e tal
Mario Lopes,
Você tem classe. Barraqueiro sim, mas, com glamour... dá cada bofetada...
lindoooooooooooooooooooooo.
Carlota, ciumenta vc não é, é grossa. hahahaha Ou melhor, é sincera. rsrs Beijo, gagota.
Ô, Mopi. Quanto às bofetadas... você não viu nada. hehehehe ;-) Beijos (e uns tapinhas).
Muuuuuito bom!
;) Ri muito! Obrigada!
Fico bem feliz, Verônica. Só resta saber c vc riu muito do texto ou dos comentários. rsrsrs Beijo.
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